Portugal vive a maior vaga de emigração desde as décadas de 60 e 70, no pré 25 de Abril. Dados avançados pelo governo português dizem que 150 mil portugueses saíram do país no ano de 2011. Segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), mais de 22 mil desempregados inscritos no organismo já foram “eliminados” do sistema por terem optado por emigrar. E, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), um em cada três jovens portugueses não consegue arranjar trabalho, o que fez com que no final de 2011 a taxa de desemprego dos 14 aos 24 anos fosse de 35,4%.

O que faz tantos portugueses procurarem novos destinos para viver? De acordo com Joana Azevedo, especialista em emigração qualificada do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES), é impossível desassociar este aumento dos índices de emigração à “crise económica e de emprego” que atravessa o país.

Quem são estes portugueses? Em declarações ao JPN, Joana Azevedo afirma que “existem vários perfis” do emigrante português. Hoje em dia emigram mais mulheres do que no passado e cada vez mais existe a tendência para a saída de jovens qualificados, que podem nem passar pelos centros de emprego. Ainda assim, a especialista alerta que muitos jovens que saem não são qualificados e que existe ainda um outro perfil: “aqueles que são novos demais para se reformar mas que encontram diferentes obstáculos à reentrada no mercado de trabalho português”.

Para onde vão e o que fazem

Os destinos de eleição da emigração portuguesa dentro da Europa são, segundo Joana Azevedo, o Reino Unido e a Suíça. No entanto, países como a Alemanha ou a França continuam a receber grandes fluxos migratórios, “potenciados pelas redes de portugueses já existentes nesses locais”. Fora do continente europeu, Angola e Brasil destacam-se por receberem cada vez mais portugueses. A proximidade linguística e a qualidade técnica lusitana surgem na linha da frente das razões para estes dois países recrutarem tantos portugueses.

De acordo com dados do IEFP relativos aos desempregados que anularam a sua inscrição por emigrarem, as áreas de “gestão e administração”, “construção e engenharia civil” e “arquitetura e urbanismo” são as mais requisitadas e também aquelas em que os portugueses tendem a ter mais oportunidades. No entanto, estes dados representam apenas uma amostra da população emigrante, uma vez que a maior parte não passam pelos dados do IEFP.

Parece não existir uma tendência nas intenções de retorno dos emigrantes. No âmbito da sua investigação, Joana Azevedo diz encontrar todos os tipos de casos. “Existem emigrantes que partem com a ideia de trabalhar dois ou três anos e regressar, mas outros encontram uma boa situação ou estabelecem família e, mesmo tendo intenções de retornar, estas são muito vagas”, aponta.

Joana Azevedo refere que, apesar de não existirem números concretos, muita da emigração portuguesa continua a ser laboral. “A emigração laboral nunca parou e aumentou outra vez e voltou a aumentar em meados dos anos 2000”, diz.