O mercado biológico foi o protagonista deste domingo, dia 1 de abril, no mainfloor do HardClub. Fruta, legumes, compotas, azeite e até cosméticos foram alguns dos produtos biológicos colocados à venda.

O espaço do HardClub, que se situa no antigo mercado Ferreira Borges, acolhe, no primeiro fim de semana de cada mês, uma feira de produtos biológicos. Frágil Lapa, funcionário do HardClub, foi quem teve a ideia de levar, uma vez por mês, um mercado biológico a um local conhecido por eventos de música, teatro e artes plásticas. Afirma que a equipa está a “a apostar” na realização de “eventos diferentes sem ser só de música ou teatro”, visto que o mercado biológico “já se torna uma subcultura forte”.

O mercado incluiu degustação de doces, mel e bolachas, assim como de tremoços, azeitonas e cerveja biológicas, bem como rastreios nutricionais aos participantes. À tarde, o HardClub contou com palestras e várias conversas com profissionais relacionadas com a nutrição e os produtos biológicos, o seu consumo e “os porquês da necessidade de uma revolução na agricultura”.

Com 13bancas participantes, o evento levou ao piso térreo do HardClub uma procura de “hábitos mais saudáveis e menos poluentes” e de sensibilização para a produção e consumo daquilo que “está perto de nós”.

Mercado biológico em crescimento em Portugal

O evento, que contou com várias bancas dedicadas a produtos diferentes, deu a oportunidade de os visitantes poderem saborear alguns produtos, como é o caso da banca da marca “Hands on Earth“. Criada há três anos, a “Hands on Earth” tem já ganho nome não só em Portugal. Maria da Glória Alegria, uma das representantes da marca, confessa que, com a ajuda “na parte gráfica e estética” e de todas as certificações necessárias, a venda “tem corrido bem” e a equipa está com “boas perspectivas”.

A marca é um exemplo de como o mercado biológico pode vingar em Portugal: a “Hands on Earth” já fornece para algumas grandes superfícies, têm produtos “em diversas casas de turismo de habitação e rural”, têm encomendas da Polónia e admitem ter “boas perspetivas” para começar a comercializar em Inglaterra. No entanto destaca que, apesar das pessoas “começarem” a estar cientes dos benefícios de produtos biológicos, “há a ideia de que o mercado biológico significa caro”.

Na banca “Nascente d’Aromas – produção de ervas aromáticas medicinais”, a variedade de ervas é muita. Armindo Oliveira, gestor da marca, pensa existir ainda “falta de divulgação” e “pouca procura” num setor onde afirma que há pessoas que pensam que um produto biológico é “de qualidade inferior”. Confessa que foi a crise “noutro setor de atividade” no qual trabalha que o impulsionou a dedicar-se à agricultura biológica. Diz que “é uma coisa que já vem de pequenino” e que o gosto pela agricultura vem “da proximidade” e do “contacto direto com a terra” e não com uma “agricultura muito mecanizada e industrializada”.

Alberto Gomes, representante da marca “Ideal Bio” e um dos precursores da cultura biológica portuguesa, foi um dos convidados a falar. Estuda e pesquisa dentro da área do mercado biológico “há mais de 20 anos”, mas “trabalha e luta” por este tipo de mercado há 12. Uma das grandes preocupações que tem no setor biológico é a da “carga química” que os alimentos comuns contêm. Afirma que, com o consumo de alimentos de cultura biológica, “grandes problemas desaparecem porque é a carga química dos alimentos que lhes causa esses males todos”.

Os benefícios dos produtos biológicos

Num mercado totalmente dedicado à cultura biológica, os benefícios dos alimentos livres de químicos foram realçados. Maria da Glória Alegria, da marca “Hands on Earth“, justifica o preço um pouco mais elevado do biológico para o mercado comum devido ao “tempo de maturação”. “Mas eu acho que não há preço que pague a saúde e, por isso, acaba por não ser caro”, afirma Maria da Glória Alegria.

Para o gestor da marca “Nascente d’Aromas”, Armindo Oliveira, este tipo de mercado “deve ser um dos factores fundamentais de aposta no futuro, não só pela sustentabilidade de todo o planeta, como pela qualidade dos alimentos”.

Como precursor da cultura biológica em Portugal, Alberto Gomes destaca a sua formação química para perceber bem qual “a reação química que há no ser humano a tudo o que é a parte química da aplicação nos alimentos”. Por isso mesmo, o gestor da marca “Ideal Bio” fala da importância que uma ação por parte dos “governantes” teria na colocação do IVA a 6% nos produtos biológicos em Portugal. “Isso seria uma mensagem para o mercado muito forte”, afirma. Mas assegura que “as vendas não são o mais importante, o mais importante é a própria sensibilização”.

Alberto Gomes realça a preocupação em “encontrar alternativas ao mundo químico” e, dentro do seu percurso, destaca a “procura incessante” na criação de “alternativas” para, posteriormente, “lutar nesse mercado para chegar às outras pessoas”.