A desertificação do centro histórico da Invicta nem começou por ser um fenómeno negativo. De acordo com José Rio Fernandes, professor da Faculdade de Letras na Universidade do Porto (FLUP), nas décadas de 60 a 80 havia um excesso de população nesta zona da cidade. “Havia pessoas a viver em condições inadequadas”, recorda. O docente da FLUP refere que assistimos hoje a um êxodo geracional. “Vão os novos e ficam os velhos”, afirma.

O desaparecer da atividade económica desta zona da Invicta é a grande responsável pela perda populacional do centro histórico. Para Jardim Moreira, presidente da Associação para o Desenvolvimento do Centro Histórico, a deslocação de atividades do porto piscatório para Matosinhos é uma das causas da redução de população. Correia Fernandes, vereador socialista na Câmara Municipal do Porto, concorda com esta visão. “Deu-se um desaparecimento de atividade económica, geradora de emprego”, sentencia o socialista. Em duas décadas, esta zona perdeu 64% da sua população.

Há quem se revolte contra esta realidade. Carmen Navarro, presidente da junta de freguesia de São Nicolau é uma das inconformadas com a situação. “O Património Mundial não é só o edificado, não é só a história, é fundamentalmente feito pelas pessoas”, defende. Etelvina de Sá, moradora na Ribeira há 78 anos já não se revê naquela local. “A Ribeira já nem é Ribeira, é só Ribeira de nome”, lamenta.

Uma das hipóteses que se coloca para resolver este problema será realojar antigos habitantes de bairros sociais nesta zona da Invicta. Todavia, esta solução não agrada a todos. Há quem tema por um aumento da criminalidade. Para Jardim Moreira, isso pode trazer para a zona “vícios como a droga e a prostituição”. O que é certo é que o centro histórico teima em não esmorecer. Para Correia Fernandes, a “culpa” é da capacidade de resistência da Invicta. “A cidade tem muita força”, finaliza.