No estúdio 3 do ginásio Premier Pinhais da Foz dão-se aulas muito particulares. Aqui, funciona a escola de artes marciais chinesas Kung Fu NT, fundada pelo mestre Nuno Terróia, em março de 2005. Com alunos a partir dos quatro anos de idade, a escola já participou em várias competições nacionais e internacionais, ganhando diversos títulos. A mais recente, a World All Styles Championship, realizou-se no fim de semana de 23 a 25 de março, em Torres Novas, e a Kung Fu NT trouxe para o norte onze títulos mundiais.

Modalidades na Kung Fu NT

Na Kung Fu NT, há aulas de kung fu para crianças (a partir dos quatro anos), jovens e adultos. Pode ainda praticar-se sanda (técnicas de combate corpo a corpo, como pontapear, soquear e projetar), tai-chi-chuan (vertente interna das artes marciais, com movimentos lentos e trabalhos de respiração e equilíbrio) e defesa pessoal. Ocasionalmente, dão workshops e cursos destas modalidades e têm, ainda, uma componente de personal training (aulas pessoais).

O diretor da escola, Nuno Terróia, pratica artes marciais desde os sete anos. Depois de ter sido treinador numa outra escola, o mestre considerou que “reunia condições” para criar o seu próprio espaço, com a sua “própria filosofia” e aquilo que, para ele, “as artes marciais de melhor devem ter”.

Diz o professor que, regra geral, os adultos frequentam estas aulas porque “gostam da modalidade em si”, sendo essa a sua motivação principal. Pelo contrário, as crianças entram na escola porque souberam que esta tinha “alguns campeões” ou então viram “algum filme de kung fu e acharam piada”. Nuno Terróia confessa que trabalhar com crianças é mais difícil, pois exige maior atenção, já que estão a ajudar a “moldar e formar personalidades”.

Atleta conquistou quatro medalhas de ouro no campeonato mundial

É já habitual a participação da Kung Fu NT em campeonatos da modalidade. Nuno Terróia afirma que têm participado em “competições a nível nacional”, nas quais têm obtido “excelentes resultados”. Ainda assim, o maior destaque vai para a participação dos atletas no World All Styles Championship, realizado em Portugal nos dias 23, 24 e 25 de março. Entre os 3600 participantes, provenientes de quarenta e quatro países diferentes, incluíam-se vinte e um alunos da Kung Fu NT.

Mariana Tavares, de 15 anos e praticante de kung fu há seis, foi a grande campeã. Ganhou quatro medalhas de ouro, nas categorias de “formas de punhos, formas de armas, combate e forma de grupo”, diz a atleta. Há meio ano, treinava quase todos os dias, por isso admite que “juntar a escola e os treinos era complicado”, pois exigia “muito trabalho e esforço”. Ao saber que tinha sido campeã, Mariana confessa que se sentiu “muito feliz, muito orgulhosa” e, sobretudo, que “o esforço tinha sido recompensado”.

Além dos onze títulos mundiais, a Kung Fu NT arrecadou, ainda, dez medalhas de prata e três de bronze. Nuno Terróia admite que, nos três meses antecedentes, os treinos foram “muito intensos”, uma vez que se descansava apenas um dia por semana. Por isso, o treinador considera que as distinções foram merecidas, já que “os alunos foram muito perseverantes e extremamente dedicados”. No final da competição, o mestre diz ter-se enchido “de orgulho” ao “ver o sorriso dos alunos e o esforço deles compensado”.

Apesar de estar a formar campeões, Nuno Terróia afirma que, quando criou o espaço, não era esse o objetivo. “A parte competitiva veio quase por arrasto”, quando os alunos “começaram a pedir mais”, afirma. O mestre considera que o mérito é dos atletas, não dos professores da escola. “Se eles não quiserem ser campeões, não há ninguém que os faça campeões. Nem o melhor treinador do mundo”, acrescenta.

Kung fu é sinónimo de trabalho árduo

Nuno Terróia explica que, traduzido à letra, kung fu significa trabalho árduo. Por isso, é preciso “gostar muito” para ir longe na modalidade. Para o professor, “o mais difícil são os primeiros meses”, nos quais se trabalham as posições base. Os alunos têm que “ganhar equilíbrio nessas posições”, o que se torna “um bocadinho chato”, uma vez que é necessário “ficar ali vários minutos, sentir a posição, o equilíbrio”, explica. Contudo, é um fator fundamental no início do kung fu. Para Nuno Terróia, compara-se aos alicerces de uma casa. “Se tivermos bons alicerces, vamos construir uma casa forte e segura”, da mesma forma que, ao ter “posições base”, constrói-se “um bom atleta”.

Ainda assim, os benefícios que a modalidade traz compensam o esforço dedicado. Para Nuno Terróia, “o kung fu ou qualquer outra arte marcial é extremamente importante” já que “ajuda a crescer de forma saudável” a vários níveis, como o de “autocontrolo, autodisciplina, autoestima e concentração”. Também a nível físico, esta é uma modalidade “muito completa”, diz o diretor da Kung Fu NT, porque “trabalha todos os grupos musculares do corpo”.

Nuno Terróia acredita que, no kung fu, “não há meio termo”. O treinador considera que “ou as pessoas gostam ou não gostam” e, por isso, quando gostam, “dedicam-se e ficam marcados para a vida toda”, remata.