Um certificado ou diploma que ateste os conhecimentos de alguém numa língua estrangeira é agora uma ferramenta essencial. Muitas universidades e empresas internacionais exigem este documento, por questões de rigor e garantia. Em Portugal são vários os locais que oferecem o enriquecimento curricular a nível linguístico, mas poucos fazem os ditos exames que darão os certificados de nível, desde o A1 ao mais alto, o C2.

Eleonora, Rita, Pedro, Angela e Bárbara são jovens estudantes e trabalhadores que procuram novas oportunidades no estrangeiro. Estudam inglês, espanhol alemão e francês e são obrigados a apresentar certificados que comprovem o seu grau de conhecimentos.

Dominar o inglês é “o mínimo”

Para o inglês é necessário o International English Testing System (IELTS) ou o English for Speakers of Other Languages (ESOL); para o espanhol, o Diploma de Espanhol como Língua Estrangeira (DELE); para o francês o Test de Connaissance du Français (TCF) e, para o alemão, o Certificado de Alemão (ZD).

Em Portugal, é o British Council que trata desta questão no caso da língua inglesa, que continua a ser a mais procurada. Eleonora Morais, de 28 anos, é farmacêutica. “Há bastante tempo que sentia necessidade de melhorar o inglês, mesmo no meu trabalho. Fui fazer um estágio em Genebra e então aí tive a comprovação de quão importante é conhecer uma língua estrangeira”, conta. O inglês é uma das suas línguas de trabalho e considera que dominá-la é “o mínimo”.

Apesar de não ter certezas acerca do futuro, Eleonora pretende obter o certificado, “para poder apresentá-lo externamente”. A jovem farmacêutica diz notar, no seu dia-a-dia, mais preocupação com a aprendizagem de línguas estrangeiras, “até de línguas menos faladas”, como o árabe ou o mandarim.

O British Council registou um aumento de 40% no número de candidatos ao exame que certifica os conhecimentos de inglês, só no último ano. Esta língua é nativa de 328 milhões de pessoas e, graças à Internet, sofreu um boom considerável, que a transformou na mais importante do mundo.

Investimento forte no espanhol

Para se ir trabalhar para Espanha convém ter o DELE, reconhecido a nível internacional e outorgado pelo Instituto Cervantes. Emilio Rubio, responsável do Centro de Estudos de Espanhol do Porto, afirma que a procura tem aumentado “nos últimos anos, tanto pelas pessoas que estudam espanhol, como por aquelas que querem certificar esses estudos que já fizeram”.

Emilio Rubio explica que existem duas vertentes importantes: “para os alunos que pretendem ingressar em universidades espanholas, nomeadamente de Medicina”, e para aqueles que precisam da língua “para o seu trabalho ou estudos em Portugal”. A crise económica não afetou a procura destes exames: “O que verificámos foi que os portugueses continuam a investir na formação”, esclarece. “Há um número de alunos importante, que rondará os 50 ou 60%, que procura preparar-se para estudar em universidades espanholas”, acrescenta o responsável.

A ALTE

Neste momento existe uma rede europeia, a Associação de Testes de Língua na Europa (ALTE), que regula as certificações, para estas serem uniformes pelo território europeu. Nos últimos dois anos, quase 50% dos licenciados inscritos nos centros de emprego acabaram por anular a sua inscrição, muitos justificando este facto com a saída do país. Os exames, em qualquer língua, têm preços que vão dos 85 e que podem chegar perto dos 200 euros.

Pedro Dias decidiu estudar espanhol porque está “inserido num mestrado na Universidade de Barcelona” e pretende fazer o DELE em maio. Para Pedro, estudar línguas estrangeiras “só faz sentido se existir o objetivo de ter contacto diário com essa lingua, idealmente no país de onde ela vem, pois, sem utilizar os conhecimentos com pessoas nativas, rapidamente os conhecimentos adquiridos ficam esquecidos”. “Usar as redes sociais” é, para Pedro Dias, outra forma de treinar línguas .

Rita Lopes já fez os exames de certificado no francês e inglês, no nível B2 (intermédio). Esta jovem estudante aspirava ao curso de Medicina, apesar de em Portugal não ter conseguido entrar. Estudou um ano na Faculdade de Ciências da Nutrição da UP e, durante esse tempo, fez “dois cursos intensivos de espanhol, acabando por fazer, três meses depois, o exame DELE, equivalente ao nível B2. Rita acabou por conseguir entrar em Medicina em Valência, Espanha, depois de realizados vários exames de línguas.

Profissionais de saúde procuram o francês

Angela Guedes está a começar o curso intensivo de francês, na Alliance Française do Porto, na tentativa de conseguir emprego na sua área. Angela, de 21 anos, tem o curso de enfermagem do Instituto Piaget e, apesar de já ter considerado a Irlanda como destino, decidiu tentar a França. O facto de já conhecer colegas que lá estão a trabalhar também pesou na decisão de emigrar para esse país. Segundo Angela, estes colegas “estão a gostar e a aconselhar ir para lá, porque ainda há emprego”.

O curso está a ser feito com o único propósito de emigrar, mas Angela considera importante estudar línguas. “É uma mais valia, tanto a nível académico como profissional”, diz. Segundo esta jovem enfermeira explicou ao JPN, é necessário atingir o nível B1/B2 para se candidatar a um emprego. O facto de Angela Guedes ser profissional na área da saúde não é por acaso. Nos últimos três anos, a Alliance Française do Porto já formou 562 profissionais de saúde, desde médicos a enfermeiros, passando por fisioterapeutas.

Ana Maria Pereira, diretora deste instituto na cidade Invicta, refere a grande procura da língua francesa por parte dos profissionais de saúde. Segundo os dados desta instituição, as áreas profissionais que mais procuram o enriquecimento linguístico são, “de longe, os profissionais de saúde“, mas também há procura por parte de áreas como a engenharia e a construção civil, neste caso com destino ao norte de África.

Alemão: crescimento na procura chega aos 60%

Segundo dados do Instituto Goethe, o perfil dos estudantes de alemão está, nos últimos meses, a mudar. O aumento de estudantes do sexo masculino foi de cerca de 50% e há mais alunos a indicar razões profissionais para aprender alemão. Este aumento tem sido verificado sobretudo nos cursos de iniciação. Neste semestre de inverno que terminou, registou-se um aumento de cerca de 22%, ao passo que em igual período do ano letivo 2010/2011 o crescimento foi apenas de 4%.

Fonte do instituto apresentou a existência de novos modelos, que compensam certas falhas, e que consistem na criação de cursos especiais para enfermeiros (pelos pedidos de hospitais alemães e agências de recrutamento) e no surgimento de cursos intensivos, devido à forte procura que se tem vindo a registar. Comparando os dados de 2010 com os de 2011, verifica-se um aumento de 44% de alunos em cursos intensivos de verão, no Porto. Relativamente ao total português, o aumento é de mais de 60%.

A enfermagem é mesmo uma das áreas em que se verifica uma maior procura de cursos linguísticos. Bárbara Sousa tem 23 anos e é enfermeira. Como muitos, procura agora trabalho na Alemanha, e pretende emigrar assim que terminar o curso de alemão. “Neste momento estou desempregada. Acho que [na Alemanha] temos muito mais condições de crescer a nível profissional, somos mais reconhecidos e bem remunerados”, considera.