O projeto “Arrebita!Porto“, ideia original do arquiteto José Paixão, foi o vencedor do concurso “Faz: ideias de origem portuguesa”, uma iniciativa da sociedade civil, promovida pelas fundações Gulbenkian e Talento, que surgiu em 2011. A ideia baseia-se na reabilitação da Baixa do Porto a “custo zero”, através da colaboração voluntária de estudantes internacionais de arquitetura e engenharia e de empresas interessadas na reabilitação da Baixa do Porto por motivos de responsabilidade social.

Marcou-se hoje, quarta-feira, o arranque do projeto, com a assinatura de um protocolo, no salão nobre da Câmara Municipal do Porto (CMP), entre as entidades envolvidas. A cerimónia contou com os discursos do presidente da Fundação Gulbenkian, Rui Vilar, com a presença de Rui Rio, presidente da CMP, e de José Paixão.

Este projeto é, segundo Rui Vilar, uma experiência pioneira, que “quer criar e acrescentar valor através de uma solução em que todos os envolvidos beneficiam”. Este “sistema de contrapartidas”, em que “reabilitação e formação voluntária se integram” permite que o projeto não represente grandes investimentos. O presidente da Fundação Gulbenkien dirigiu-se, durante a cerimónia, ao arquiteto José Paixão, que, no estrangeiro desde muito cedo, voltou ao país para realizar a sua proposta. Segundo Rui Vilar, este é um exemplo da renovação da esperança do investimento em Portugal.

Apesar de considerar o projeto “um passo importante” e de dar “prioridade” à reabilitação da Baixa, Rui Rio acredita que o mesmo é um “projeto de geração” e que, por isso, “não se pode esperar” que a Baixa do Porto fique, em poucos anos, “completamente reabilitada”.

“Ainda é muito escasso o número de pessoas que vivem na Baixa e é nisso que devemos apostar”, acrescenta Rui Rio. O autarca rematou o seu discurso com uma perspetiva de futuro mais abrangente, dizendo que, talvez assim, seja possível que “mais pessoas acreditem em projetos e possam voltar a Portugal”.

A ideia

O projeto “Arrebita!Porto” assenta, fundamentalmente, na colaboração entre estudantes de arquitetura e engenharia de outros países que, a troco do envolvimento voluntário no projeto, possam obter formação prática em Portugal. Para além daquilo a que se pode chamar a “mão-de-obra”, as empresas e instituições interessadas na responsabilidade social sustentam o projeto, fazendo, por exemplo, doações de material. “A base do projeto é de ação efetiva, de empreendedorismo com a componente social, tendo em conta a responsabilidade comum e o benefício de todas as partes”, explica José Paixão.

José Paixão explica que o projeto está pensado para se alargar a outras cidades além fronteiras, tendo como realidade mais próxima Vilnius, a capital da Lituânia, onde se estão já a estabelecer contactos com um especialista português de reabilitação. No entanto, José Paixão afirma que a cidade do Porto é uma boa base de arranque. “O Porto é um caso particular no que concerne os problemas de abandono e desertificação do centro. Nas últimas duas décadas, o centro do Porto perdeu dois terços da população”, refere o arquiteto, acrescentando que “o problema é gravíssimo e todas as soluções são urgentes”.

As obras de reabilitação começam em setembro deste ano, num edifício camarário da rua da Reboleira, na Ribeira. Prevê-se que a obra esteja concluída em inícios de 2014.