A Invisible Children lançou a sequela de “Kony 2012”, um dos vídeos mais famosos do ano e um dos que mais rapidamente se propagou pelo mundo em toda a história. Em “Kony 2012 – Part II – Beyond Famous“, que saiu um mês e um dia depois do primeiro capítulo, a organização não governamental (ONG) revela mais dados sobre Joseph Kony e sobre as operações do exército liderado por ele, o Exército de Libertação do Senhor (LRA).

Desta vez, a história é contada por Ben Keesey, CEO da Invisible Children, depois do aparente colapso mental de Jason Russell, realizador e narrador do primeiro vídeo. O vídeo explica o porquê da campanha, mostra os progressos realizados no último mês e dá a receita para o dia 20 de abril, o dia de “Cover The Night”, em que o rosto de Joseph Kony deve ser espalhado por todo o mundo.

A segunda parte de “Kony 2012” explica que o LRA atua agora fora do Uganda, espalhando a sua atividade criminosa pela República Democrática do Congo, a República Centro-Africana e a República do Sudão do Sul. Segundo números apresentados pelo vídeo, só no último mês o LRA é responsável por 57 raptos. O vídeo frisa que, apesar de todas as tentativas, nunca um acordo de paz foi consumado.

Segundo a sequela de “Kony 2012”, a ação popular, um pouco por todo o mundo, tem superado todas as expetativas. Desde o dia 4 de março, data de lançamento do primeiro vídeo, duas resoluções relativas a Joseph Kony foram aprovadas pelo Congresso dos EUA e foi acionada uma força de cinco mil militares coordenada pela União Africana.

No entanto, é no terreno que a Invisible Children mostra os maiores progressos. Está em desenvolvimento uma rede radiofónica que visa alertar as comunidades para as movimentações e ataques do LRA e estão a ser espalhados panfletos, pela floresta, com instruções para fugir ao LRA. Começaram a ser encetados esforços para a reabilitação material e foram criados postos de reabilitação psicológica para as vítimas de Kony.

O vídeo fecha com a receita para o dia 20 de abril: formar equipas com os amigos, contactar e dialogar com os líderes políticos e, ao mesmo tempo, servir a comunidade e promover a chamada de Joseph Kony perante a justiça.

O segundo vídeo lançado pela Invisible Children tem cerca de 20 minutos, menos 10 do que a primeira parte. Além da duração, o vídeo apresenta outra grande diferença em relação ao primeiro. A circular na Internet há 6 dias, o vídeo atingiu muito menos visualizações do que “Kony 2012” em igual período.

Mais de 100 milhões de visualizações e muita polémica

“Kony 2012” é uma falsa campanha eleitoral levada a cabo pela Invisible Children. O primeiro vídeo, de 30 minutos, circula na Internet desde o início de março de 2012, visando tornar famoso o criminoso de guerra Joseph Kony, de modo a que o seu nome e cara se espalhem pelo mundo com o objetivo de facilitar a sua captura. Durante largos anos, Joseph Kony foi diretamente responsável por inúmeras execuções, mutilações, raptos e violações no norte do Uganda, sendo procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) desde 2005.

O projeto nasceu depois da visita de três norte-americanos ao Uganda, que ficaram sensibilizados com a história de Jacob Acaye, um jovem ugandês que viu o seu irmão ser morto pelo LRA. Depois de muita pesquisa e palestras por todo o território americano, surgiu o primeiro vídeo, realizado por Jason Russell. O projeto pretende mobilizar todo o mundo nesta causa, lançando o apelo para que, na noite de 20 de abril, a cara de Joseph Kony seja espalhada por todo o mundo. A organização disponibiliza até no seu site um kit com posters criados para o evento e tutoriais no YouTube sobre como fazer graffitis e stencils alusivos.

Apesar do enorme sucesso que alcançou, “Kony 2012” está envolto em grande polémica. O vídeo e a Invisible Children têm sido alvo de várias críticas por parte de algumas das mais de 100 milhões de pessoas que já assistiram ao vídeo – isto contabilizando apenas as visualizações da versão oficial e colocando-o na lista dos mais vistos de sempre no YouTube.

O facto de Joseph Kony e o LRA estarem já fora do território ugandês há 6 anos e a suposta ligação da Invisible Children ao violento exército do Uganda e aos rebeldes sudaneses são alguns dos argumentos dos que acusam o vídeo de ser propaganda sensacionalista. Há ainda quem defenda que o vídeo não passa de uma estratégia do governo americano para se apoderar de uma reserva de petróleo recentemente descoberta no Uganda, quem acuse a ONG de não ser transparente em relação ao que faz com o dinheiro proveniente dos donativos e quem diga que tudo não passa de uma encenação para cobrir a ditadura imposta pelo presidente do Uganda, Yoweri Museveni.

Entrentanto, a Invisible Children lançou no seu website uma página com as respostas a estas críticas, lembrando que o objetivo de tornar Kony famoso está a ser cumprido e contando com o apoio de nomes como o do presidente do TPI, Luís Moreno Ocampo (que aparece em ambos os vídeos), e de várias celebridades e políticos norte-americanos.