A causa monárquica ainda existe e resiste. Mais de cem anos depois da instauração da República Portuguesa, ainda há muitos portugueses defensores da causa monárquica. Segundo D. Duarte Pio, cerca de 30% dos portugueses acham que “um rei seria melhor do que um presidente”. Por sua vez, quatro mil é o número de eleitores do Partido Popular Monárquico (PPM). Mesmo ligados a fações muitos distintas, ainda há jovens que acreditam que a resposta residiria numa mudança de regime.
Ana Bacelo é licenciada em Psicologia pela Universidade do Porto (FPCEUP) e, neste momento, frequenta o mestrado em Gestão. Aos 29 anos, diz que “um regime monárquico não seria assim tão nefasto como alguns querem fazer crer”. Muito pelo contrário. “Há países que têm atualmente um regime monárquico e que são perfeitamente democráticos, as pessoas têm uma qualidade de vida muito superior à nossa”, afirma.
Para Ana, um dos maiores trunfos do regime monárquico é a existência de um chefe de Estado supra partidário, independente de partidos e interesses. “Só por aí, o rei já pode, de uma forma muito mais imparcial, moderar os poderes existentes no Estado. O rei tem um papel de ponderação, de bom senso… quase de conciliação de poderes”, explica. Pedro da Silveira, por sua vez, diz que um regime monárquico traria benefícios económicos ao país, facto com o qual Ana concorda plenamente. Dos 25 países mais ricos do mundo, 18 deles são monárquicos e isso só por si já é suficiente para fazer pensar um bocadinho”, garante.
A maior parte das pessoas não entende a monarquia
Angelina Canelas só conheceu o regime republicano, mas é fiel ao ideal monárquico. “Pelo património cultural e histórico que possuímos é fácil de ver que tivemos bons reis que souberam tirar partido das coisas que Portugal oferecia. Um Portugal monárquico seria um Portugal tão brilhante como foi desde o nascimento da nação, um Portugal respeitado”, afirma.
Já Manuel Rezende diz mesmo não conseguir sequer imaginar Portugal sem ser monárquico. “O que existe hoje é a República Portuguesa e não Portugal”, afirma. Ainda assim, ao contrário dos anteriores, não vê a monarquia como o fim dos problemas do país. “Não resolverá, de maneira nenhuma, os problemas do país. Esses problemas não são meramente económicos ou sociais. Há toda uma recuperação do espírito português que tem de renascer e fortalecer e a consequência de se ensinar à pátria aquilo que ela significa é a monarquia”, garante.
Mas primeiro de tudo, é necessário entender a monarquia. Segundo Filipe Neto, “as pessoas ainda não sabem o que é verdadeiramente a monarquia, do que se constituiu e como funciona”. “Nós vivemos, durante os últimos cem anos, rodeados de mitos e falsas verdades sobre o que é a monarquia”, afirma. Por isso mesmo, ainda existem “alguns pruridos da parte de pessoas com origens mais modestas, algum acanhamento em se assumirem como monárquicas”, já que este regime é, normalmente, conotados com pessoas de classe média alta e a uma certa elite social. Ana diz que este acanhamento não faz sentido nenhum. “Em Inglaterra, por exemplo, as pessoas de classe mais baixa adoram a rainha”, afirma.
Partido Popular Monárquico não é visto com bons olhos
Mas como afirma o historiador Manuel Loff, os jovens monárquicos não são “um número representativo em Portugal”. Além disso, muitos deles acabam por filiar-se a partidos – normalmente o CDS. Ana Bacelo filiou-se na Juventude Popular aos 17 anos e Pedro é simpatizante do partido. “PSD e CDS são aqueles que estão mais próximos dos valores da monarquia”, diz Pedro. “Se houvesse uma força monárquica forte, eu lutaria por essa força”, garante.
E o Partido Popular Monárquico? Dentro da causa monárquica, há muitos que não sentem qualquer simpatia por este partido. “O PPM está a partidarizar algo que não é partidário. O meu ideal é a monarquia e o meu partido é Portugal”, afirma Filipe Neto. Pedro vai mais longe. “O PPM não quer apoiar o rei, é só um conjunto de pessoas mais interessadas nos seus assuntos e D. Duarte pode não ser a pessoa mais indicada, mas é o herdeiro à coroa”, sublinha.
Entre eles, há ainda quem não se junte a causas, partidos e grupos. Manuel considera que o país não está ainda preparado para uma monarquia e deixa um conselho aos colegas monárquicos. “Sejam bons profissionais e procurem, pelo exemplo, dar a este país aquilo que ele precisa. Questões de coroas e princesas são claramente secundárias quando estamos perante um país a viver num completo interregno histórico, ‘sem rei nem lei, nem paz nem guerra'”, remata.