Saiu à boleia de Portugal pela primeira vez quando tinha 19 anos, sem experiência e sem saber o que fazer. Com o objetivo de não ter umas férias rotineiras, acabou por chegar a Barcelona. Apesar da primeira experiência não ter corrido tão bem quanto desejaria, explica que só o motivou para as viagens que viriam a seguir. Agora, sempre que pode, sai do país com a mesma facilidade.

“Não tinha muito dinheiro para viajar por conta própria. Levei só uma guitarra e tentei ganhar algum dinheiro na rua. Não correu muito bem”, explica Luís Pinto, que viajou desta forma até Barcelona. A guitarra deu-lhe apenas dinheiro suficiente para comer e, por isso, ou ficava na rua ou passava noites na casa de pessoas que se ofereciam para o receber, depois de conhecerem a sua história.

Cometidos os erros de principiante, Luís Pinto explica que tem aprendido muito com a experiência. Leva uma mochila com mudas de roupa, “comida para começar” e um fogareiro a álcool para cozinhar. Para reunir dinheiro para se sustentar, tornou-se criativo.”A partir do ano passado comecei a levar um kit de bolhas de sabão gigantes e comecei a ganhar muito dinheiro. Nessa altura, podia dar-me ao luxo de dormir em hotéis e comer em restaurantes”, salienta. Começou, também, a levar o bandolim, “para chamar a atenção das pessoas para a música.”

Além de ser uma forma económica de viajar, Luís conta que o melhor de andar à boleia “são as pessoas que se conhecem e as situações às quais se está exposto”. Muitas vezes acompanha camionistas que o ajudam a percorrer maiores distâncias e partilham com ele comida, dormida e experiências.

Luís aconselha os principiantes a não escolher um primeiro destino tão longínquo e “começar por Portugal”. Realça, ainda, a importância de não ter medo quando se anda à boleia. “Se falares com a pessoa e tentares conhecê-la, em princípio não serás enganado”, assegura.

Para a sua próxima aventura, planeia, durante as próximas férias de verão, dar a volta ao mediterrâneo. “Começar pelo norte de África, depois Médio Oriente, Turquia, Grécia e Itália”. Relativamente aos desafios que potencialmente pode encontrar em países como a Líbia, a Síria e a Jordânia, Luís mostra-se confiante. “Se mostrar alguma humildade e alguma predisposição para me submeter às regras e aos costumes deles, acho que não vou ter problemas”, acredita.

Muitas experiências, boas e más

Como exemplo das boas experiências que passou com as pessoas que conheceu, Luís conta a história de uma boleia que apanhou a muito custo. O condutor pediu-lhe que abrisse a mochila e para tocar guitarra, “para perceber que não era um fantoche”, conta. “Deu-me boleia e, a certa altura, eu adormeci. Só por ter adormecido e por ter mostrado esse ‘sinal de fraqueza’, percebeu que não tinha más intenções, ofereceu-me comida regional e quis tirar fotografias comigo”, recorda Luís.

A acrescentar a esta lista de pontos positivos, Luís realça as vivências que obteve do couchsurfing. “Só tenho tido boas experiências, tanto que agora, para além de o fazer, também recebo pessoas em minha casa”, diz.

Depois de acumular várias viagens feitas à boleia, Luís não considera algumas situação más, mas “incómodas”. Destes exemplos recorda o facto de ter voltado de Barcelona sem a guitarra que levava, uma vez que a polícia catalã lhe cobrou uma multa de 200 euros por ela, a chuva torrencial que apanhou à entrada de Amesterdão, enrolado no saco-cama, e a caminhada de 25 quilómetros que teve que fazer depois de ter deixado a mochila para trás ao apanhar boleia em Orense, Espanha.