“Pinto da Costa contribuiu para o fortalecimento da sociedade civil portuense e para uma sadia e dinâmica autoestima nortenha”. Foi assim que Ramalho Eanes definiu, à Agência Lusa, os 30 anos de presidência do carismático líder dos dragões.

Pinto da Costa tem o apoio consensual de todos os adeptos portistas, que cantam o seu nome pelos estádios do país. Mas, efetivamente, Pinto da Costa representa (quase) tanto para os portistas como para os portuenses. A sua influência na cidade, fruto da relevância do cargo e da unanimidade que reúne, é inegável, quer se considere esta influência positiva ou negativa. Nascido e crescido no Porto, nunca escondeu o amor pela “Invicta”, tendo mesmo escrito poemas dedicados à cidade e seus habitantes.

“O que se sente é que os portuenses estão-lhe imensamente gratos e mesmo os que não são portistas reconhecem méritos de liderança e de defesa de valores, afirma Miguel Guedes, vocalista da banda Blind Zero e comentador no programa “Trio d’Ataque” . “Há, sobretudo, uma enorme estima e todo o respeito por uma enorme liderança”, acrescenta.

Ramalho Eanes também teceu rasgados elogios à forma como Pinto da Costa personifica a dinâmica da cidade. “Mostra saber e sentir, com clarividência, que uma comunidade regional, tanto como uma comunidade nacional – ou até um homem – só pode ser subjetivamente responsável, solidariamente empenhada, quando tiver suficiente autoestima”, concluiu Ramalho Eanes.

Rui Rio e Pinto da Costa de costas voltadas

A relação de Pinto da Costa com a cidade tem sido, inevitavelmente, marcada pela relação hostil entre o clube e a Câmara Municipal do Porto (CMP). Os motivos para essa ligação de inimizade não são políticos. A relação azedou pelo facto de Rui Rio nunca ter recebido o FC Porto após as suas conquistas internacionais, facto largamente aclamado como uma injustiça pelos habitantes portuenses da cidade. Após a conquista da Liga Europa do ano passado, Pinto da Costa disse-se magoado com a atitude da CMP. “Se eu fosse presidente da Câmara, receberia o FC Porto. Mas como sou presidente do FC Porto, não costumo assaltar câmaras”, disse, na altura, o líder dos “dragões”.

Reconhecida a importância nacional e internacional do FC Porto, os portuenses desejariam uma relação mais normalizada entre a autarquia e o clube. No entanto, Miguel Guedes diz que o clube não precisa da CMP e considera o tratamento por parte da autarquia “vergonhoso”. “A atual relação entre Pinto da Costa e a Câmara do Porto é quase inexistente. É vergonhoso que a Câmara não tenha aberto as portas ao clube e a pessoas, grande parte delas naturais da cidade, que fizeram enaltecer o nome da cidade além-fronteiras, ganhando títulos internacionais”, afirma Miguel Guedes. “Há aqui uma relação de desconsideração. Rui Rio fechou a porta ao FC Porto e atirou a chave para sítio incerto. Mas o FC Porto não quer olhar pela fechadura. O FC Porto tem a cidade a seus pés”, declarou.

O problema da sucessão

Depois de 30 anos de mandato, já se especula sobre quem será o sucessor de Pinto da Costa. Fala-se de Rui Moreira, de António Oliveira ou até de Vítor Baía. Mas a questão da sucessão é algo que não deixa Miguel Guedes preocupado. “Pinto da Costa está preparado para o novo mandato. Essa sucessão aparecerá no seu tempo natural. Do que eu estou profundamente convencido é de que os sócios do Porto nunca deixarão um ‘cristão novo’ entrar, nem deixar que o clube seja atacado por aves de rapina”, garante o músico.

Em janeiro de 2009, o líder dos “azuis e brancos” disse que o FC Porto é “o grande baluarte do norte, cada vez mais esquecido e amordaçado”. A verdade é que Pinto da Costa é, ele próprio, um baluarte da cidade e, amado ou odiado, uma das grandes figuras portuenses ainda vivas.