Foi a segunda vez que a Es.Col.A foi invadida pela polícia. E, desta vez, o país assistiu em direto ao desenrolar dos acontecimentos e acompanhou tudo pelas redes sociais. Tudo começou por volta das 10h00, quando as forças da autoridade montaram um perímetro de segurança em torno da zona. A polícia fechou uma das ruas de entrada para a antiga escola primária e nem as queixas dos moradores demoveram os agentes, que aconselhavam as pessoas a escolher outro caminho. Um dos manifestantes chegou a apelar à consciência de um dos agentes. “A objeção de consciência está consagrada”, explicou. “Se o mandassem matar uma criança você não o faria”, acrescentou.

O agente em questão recusou responder a mais argumentos lançados pelo manifestante. Foi então que os ânimos se exaltaram. Um popular acusou os polícias de agirem sob ordens “fascistas”. Uma moradora rebateu os seus argumentos, revelando que a escola era culpada de poluição sonora, isto apesar de revelar que, no início do projecto, o achava “positivo”.

Na outra entrada, uma grande multidão juntava-se para impedir a saída dos agentes. Sentados no chão, os manifestantes resistiram às tentativas de desmobilização por parte da polícia. Os agentes conseguiram, formando um cordão humano, arrastar os manifestantes para um dos lados, deixando que as carrinhas abandonassem a zona. Nesta altura, deram-se os primeiros tumultos, depois de um indíviduo ter atacado outro com um guarda-chuva. A situação descontrolou-se, tendo a polícia intervido, resultando daí dois feridos ligeiros, um deles atingido por um “taser”. Uma das vítimas chegou a estar inconsciente por momentos.

Entre apelos à polícia para que se juntassem aos manifestantes e acusações de serem subservientes do poder instalado, os manifestantes decidiram juntar-se no largo da Fontinha e iniciar uma Assembleia Popular. Foi formado um círculo, tendo tomado a palavra um dos voluntários, que acusou as autoridades de usarem força excessiva e de terem “torcido os braços àqueles que estavam sentados para os obrigar a levantar”. O dirigente distrital do Bloco de Esquerda disse, em declarações ao JPN, que o BE está “solidário” com a Fontinha e mostrou-se “indignado” pela atuação policial.

Um dos membros da comunidade da Es.Col.A mostrou-se indignado com o despejo de que foi alvo. “Preferem que venham para aqui os drogados do que termos alguém a tomar conta disto e a ensinar as crianças”, ressalva, acrescentando que “os pais até deixavam as crianças” no espaço porque sabiam que o grupo cuidava delas. “Eles podem partir a escola toda que nós vamos voltar e reparar tudo”, declarou um dos presentes. Este manifestante revelou, também, que já foi tentada uma abordagem através da Assembleia Municipal, tendo sido o representante da Es.Col.A “humilhado” e chamado de “anarca”.

Ocupar as ruas do Porto pela Es.Col.A da Fontinha

Entretanto, e após denúncias de técnicas abusivas da polícia, como a “utilização de bastões ao contrário”, a Assembleia Popular decidiu seguir em cortejo para a esquadra do Heroísmo, onde estavam detidos os três manifestantes levados pela PSP. Os protestantes seguiram em marcha desorganizada, entoando cânticos de incentivo à Es.Col.A e insultos a Rui Rio. Foi num espírito de revolta e festa que a “procissão” chegou ao destino. Rapidamente foi montado um dispositivo policial, que cortou o trânsito naquela zona.

Ao som de bombos trazidos por outros manifestantes, os presentes começaram a exigir a libertação dos detidos. Só desmobilizaram quando o advogado representante dos mesmos, Alberto Martins, o pediu, explicando que, se isso não acontecesse, a libertação dos presos seria atrasada. O advogado declarou à imprensa não saber se os três detidos vão ser apresentados a tribunal ainda hoje, mas avançou que as acusações de que são alvo dizem respeito a “ofensas da integridade física” e” injúrias”.

Os protestos continuaram pela rua até às traseiras da Câmara Municipal do Porto (CMP). Os manifestantes, revoltados com a atuação da autoridade, insultavam os agentes. Foi então que a polícia teve de usar a força para afastar os manifestantes daquela zona. Usando um megafone, os protestantes quiseram fazer-se ouvir na CMP. Acusaram Rui Rio de ser “anti-democrata” e de “não se preocupar com a população”. Exigiram, inclusive, a “demissão” do presidente.

O momento de maior tensão nas traseiras da CMP fez-se sentir quando um homem de meia-idade tentou pegar fogo a si próprio. O homem despejou um pequeno garrafão com gasolina no corpo, mas foi prontamente travado, quer pelos populares, quer pela força policial, que o levou para o interior do edifício camarário. Mais tarde, o homem foi levado pelo INEM para o hospital.

“As pessoas do Es.Col.A não estão sozinhas”

José Soeiro, membro da comissão política do BE, também esteve presente nos protestos. Em declarações ao JPN, o bloquista acusa a CMP de desperdiçar espaços úteis da cidade e de só saber responder a protestos como estes através da força policial. “Aquilo que as pessoas da Fontinha construíram, a Câmara destrói através da polícia”, lamenta.

“Este protesto só mostra que as pessoas do Es.Col.A não estão sozinhas”, afirma, realçando que a mobilização popular é a única hipótese de “isolar o executivo camarário” e voltar a levar o projeto para a Escola da Fontinha.

Ainda na CMP, os manifestantes reuniram-se, formando um cordão que rodeava o edíficio. O cordão manteve-se apenas durante alguns minutos, uma vez que os manifestantes começaram a organizar-se para voltar à Escola da Fontinha. O objetivo seria perceber o estado do edíficio depois dos confrontos que decorreram durante a manhã.

Cerca de 200 manifestantes condensaram-se na Rua do Alto da Fontinha à tarde, perante a barreira policial que impedia que qualquer pessoa passasse em direção à escola. Os manifestantes, por várias vezes, forçaram a barreira policial, provocando a confusão geral. Entre os ativistas, algumas pessoas tentavam arrancar pedras da calçada para arremessar. Foram, também, atiradas garrafas de água, mas os atos mais violentos ficaram por aí.

Perante a impossibilidade de demover a polícia, os manifestantes continuaram os gritos de incentivo, com a ajuda de múltiplos moradores. Catarina Martins, deputada do BE, entrou em contacto com a polícia já ao cair da tarde. Foi autorizada a entrar com uma pessoa que conhecesse bem o edíficio. Os manifestantes pediam, ainda, a entrada da comunicação social para retratar o estado do mesmo. No final, apenas duas pessoas entraram, com o propósito de reaver os seus pertences. Neste momento, a multidão continua no local, empenhada em voltar a ocupar o edifício.