Na hora de escolher a formação académica, muitos jovens têm em conta as saídas profissionais dos cursos que elegem e o futuro que os estudos superiores lhes pode proporcionar. Ainda assim, existem vários jovens que escolhem a futura profissão e o que querem estudar por paixão à matéria e amor à camisola.

Um político da Roma Antiga, Cícero, disse: “Ó filosofia, guia da vida!”. Mas que saídas profissionais pode dar a filosofia aos que estudam esta área do saber, de forma a estes guiarem a sua própria vida e o seu futuro profissional?

A Sociedade Portuguesa de Filosofia (SPF), sediada em Lisboa, foca-se essencialmente em duas vertentes. A vertente científica que tem como base o prémio ensaio filosófico, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), que recupera a tradição de apresentar ensaios sobre um tema previamente dado relacionado com uma questão filosófica central. A segunda vertente é a do ensino, onde a sociedade participa, em conjunto com o ministério da Educação, tentando promover o defender o ensino da filosofia.

António Lopes, membro da SPF, considera que o papel da filosofia é “promover a consciência da importância do debate de ideias racional”, pois isso “é fundamentalmente aquilo que a filosofia é desde que nasceu na Grécia”, acrescenta. Para António Lopes, a filosofia “não é exclusiva de certa épocas e de certas conjunturas históricas”, tem como função o estímulo de uma atitude ponderada, refletiva, e de valorização da argumentação.

“Ter emprego a filosofar”: o estigma

Viriato Marques é licenciado, mestre e doutorado em filosofia e lembra que quem estudava filosofia tinha como futuro o mercado do ensino, sobretudo secundário. “A formação em filosofia é propedêutica, introdutória a outras competências. Eu vejo isso com muitos alunos meus que, neste momento, trabalham no setor bancário, comercial ou editorial”, conta. Estes são contratados “pelas competências cognitivas e de metedologia de pensamento que vão aprendendo”, explica. Viriato Marques defende que, “fundamentalmente, o curso de filosofia é uma aprendizagem do pensar”.

Paulo Ricardo Teixeira licenciou-se em filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Tirou o curso devido à paixão que tem por filosofia e “pelas questões que aborda”, diz. “Foi um objetivo mais pessoal”, afirma o jovem. Contudo, Paulo esperava adquirir algumas bases para o mundo profissional e tal acabou por se revelar “uma pequena desilusão”, refere. No entanto, o jovem acredita que “a pouco e pouco as pessoas vão acabar por dar mais valor à filosofia”, pois “sem humanismo, não há Homem”, remata.

Estar na política e ser filosófo não é uma associação direta, segundo o professor da Universidade de Lisboa. Viriato Soromenho-Marques defende que “uma pessoa que esteja na política deve ter a sua profissão, o seu ofício. Isso é também o que dita a liberdade de entrar ou sair da política”, diz.

A investigação é igualmente um dos caminhos da filosofia. O Instituto de Filosofia da Universidade do Porto (IF) é financiado pela FCT. O centro faz investigações em dominios científcios da área e publica “com reconhecimento nacional e internacional”.

Apesar de ainda existir um preconceito para com esta área, o filósofo francês Blaise Pascal escreveu que “fazer troça da filosofia, é, na verdade, filosofar”.