A edição de 2012 do IndieLisboa tem no seu programa dois documentários de dois professores da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), que dão aulas no curso de Ciências da Comunicação da UP. As obras competem nas secções Cinema Emergente e Competição Nacional.
Uma delas, “Antero“, é um documentário de 18 minutos, que apresenta “várias camadas do Portugal rural sobre um homem chamado Antero”,
diz o site do festival. O autor, José Alberto Pinto, explicou ao JPN como surgiu “Antero”. Numa ida a Paredes de Coura para dar uma formação, foram equacionados vários temas para um filme. Uma das hipóteses era, precisamente, Antero. Acabaram por escolher outro tema mas o docente ficou “curioso” ao ver algumas imagens dos trabalhos dele e conta o porquê da curiosidade: Antero colecionava objetos considerados lixo, acabando por transformar a sua casa numa instalação.
Um festival “com histórias reais para pessoas reais”
O IndieLisboa é um festival que decorre anualmente na capital, ao longo de 11 dias. Este Festival Internacional de Cinema Independente vai na 9.ª edição e apresenta “longas e curtas metragens, obras de ficção, filmes de animação, experimentais e documentários”. O seu principal objetivo é promover e divulgar “obras de autores nacionais e estrangeiros ao público e a profissionais do sector”. O festival tem, também, outras atividades como palestras e conversas, para criar um maior “envolvimento dos diversos públicos do festival com o cinema”. Este ano, o IndieLisboa está na Culturgest, Cinema Londres e Cinema São Jorge, de 26 de abril a 6 de maio e os preços para assistir a “histórias reais para pessoas reais” podem ser consultados no siteoficial.
O processo de filmagem e montagem do documentário decorreu entre 2007 a 2011. “Guardei umas bobines de Super-8 e fui lá filmar e gravar som. Passei dois dias a conversar com ele e, depois, durante um dia, filmei”, explica José Alberto Pinto. “Entretanto, os anos passaram e, em 2011, resolvi montar o filme e fui lá fazer mais dois ou três planos das paisagens, com som direto”, continua. O áudio foi gravado em formato digital e a imagem foi feita parte em película Super-8.
Antero, que “era mais ou menos conhecido”, estava “debilitado” quando José Alberto Pinto regressou a Paredes de Coura, em 2011. As suas coisas “estavam todas destruídas” e o que aparecia no filme “desapareceu tudo”.
Documentar a adaptação a uma cidade
“No momento em que fui viver para Nova Iorque, e no período de adaptação à cidade, comprei uma ‘câmara de turista’ com a qual captei imagens do meu dia-a-dia durante alguns meses”, conta André Valentim Almeida, que realizou “From New York With Love”. Ao sentir terminado esse período, escreveu um guião para as imagens e incorporou imagens de filmes clássicos que se enquadrassem com a sua disposição.
É a primeira nomeação do docente, que já realizou “Uma na Bravo outra na Ditadura”.
Importância para a Universidade do Porto
“O currículo das instituições também se faz, em parte, do currículo dos seus docentes e investigadores. Cada vez mais é assim”, afirma José Alberto Pinto. “Para a universidade, ter logo dois docentes da mesma área reconhecidos por um festival com importância internacional é positivo”, diz, salientando também que há imensas obras a competir por um lugar no festival. Também André Valentim Almeida afirma que “qualquer reconhecimento de um elemento da UP” é importante para a instituição.
José Alberto Pinto destaca que em Portugal já se fizeram e continuam a ser produzidos filmes com poucos meios, mas que é “importante haver subsídios para apoiar a produção” para que “a máquina do cinema não pare”. Até porque, o cinema não se faz só de “trabalho individual”, diz.
Por outro lado, refere que o cinema português tem as suas particularidades mas que, ainda assim, “há exemplos recentes de que é possível ter saída em termos de distribuição, público e reconhecimento”.
André Valentim Almeida diz sentir-se “grato em viver neste momento tecnológico em que é possível realizar um filme por um custo marginal”, sendo uma “enorme liberdade” poder situar-se “fora do sistema de produção tradicional”. Isto em relação a filmes como o seu, em que a “liberdade faz parte do DNA”.