O Movimento Zero Desperdício quer que as “sobras” alimentares de estabelecimentos como restaurantes, super e hipermercados, hotéis e cafetarias sejam utilizadas para alimentar quem mais precisa. As sobras consistem em “comida que nunca saiu da cozinha, comida cujo prazo de validade se aproxima do fim ou comida que não foi exposta nem esteve em contacto com o público”, segundo o site oficial.

Os aderentes, ao cederem estes produtos “que antes acabavam no lixo”, fazem com que seja “possível alimentar cada vez mais pessoas” a “custo zero”. Os dados da associação responsável pelo Movimento Zero Desperdício, a DariAcordar, dizem que mais de 360 mil pessoas passam fome em Portugal e que são desperdiçadas cerca de 50 mil refeições por dia, em todo o país.

“Queremos acabar com o desperdício. Nos tempos que correm, o que há a mais num lado está a faltar noutro”, diz a organização no site. Para já, estão a trabalhar a área da alimentação na zona de Lisboa, mas planeiam chegar a outras áreas e operar em todo o país.

Replicar o modelo no Grande Porto

O projeto está em andamento desde novembro. Nele participam as autarquias de Lisboa e Loures, sendo que Cascais e Sintra são os próximos locais a garantir participação. Na capital, ainda apenas participam duas freguesias, mas António Costa, citado pelo Público, afirma querer o alargamento a todas as outras. Em Loures, já foram apoiadas 387 famílias carenciadas e angariados mais de sete mil quilos de alimentos.

António Costa Pereira, presidente da DariAcordar, declara ao JPN que, “por enquanto, os associados são todos residentes” na zona de Lisboa e que contam “manter apenas estes municípios durante mais algum tempo”. Para as próximas semanas esperam vir a ter instalações para a associação, assim “como recursos humanos em permanência”, o que vai “facilitar a replicação deste modelo por todo o país, nomeadamente na região do Grande Porto”. António Costa Pereira diz ainda não ter datas para a chegada à Invicta, mas garante que “tudo está a ser feito” para que essa data chege “logo que possível”.

Aderir à causa

O movimento pode ser apoiado de diversas formas. Para além dos estabelecimentos, que podem doar alimentos em boas condições, mas que não podem ser comercializados, também entidades, como câmaras municipais, juntas de freguesia ou organizações não governamentais, podem ajudar. A nível individual, existe, igualmente, espaço para voluntários.

Como forma de distinguir quem ajuda, os aderentes recebem o selo “Zero Desperdício”, que serve para avisar que o espaço oferece o que não pode vender a quem precisa de comer. Isto porque “a comida é boa demais para o lixo” e, se os estabelecimentos quiserem, esta “pode chegar à mesa de alguém”, diz a organização. A ideia é que os estabelecimentos e respetivos clientes participem sem gastarem dinheiro, num processo que já foi validado pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE).

“Portugal não se pode dar ao lixo”

A Associação DariAcordar, responsável pela ideia, afirma-se como uma “associação contra o
desperdício”. Criada em janeiro de 2011, é também responsável pela petição “Desperdício Alimentar”, que já reuniu mais de 70 mil assinaturas.

O Movimento Zero Desperdício é apoiado por Cavaco Silva e a campanha, que diz que “Portugal não se pode dar ao lixo”, tem um hino em que participam mais de 50 artistas portugueses, entre eles Cristina Branco, Fernando Girão, Jorge Palma, Sérgio Godinho, Camané e Luísa Sobral.

A letra deste hino e os músicos que nele entraram, assim como o movimento em si, trouxe alguma controvérsia online, nomeadamente com uma crónica de José Vítor Malheiros, colunista do jornal Público. Essa crónica foi subscrita por Daniel Oliveira, do semanário Expresso.