A crise da zona euro arrasta-se e muitas vozes se têm levantado para pedir novos investimentos que estimulem a economia europeia. Por isso, a União Europeia (UE) está a preparar um “novo Plano Marshall”, de 200 mil milhões de euros, com o qual pretende recuperar a economia europeia, através de investimentos públicos e privados. A crise, que já não é “apenas dos países periféricos”, também ameaça outros países europeus, como o Reino Unido que “já está em recessão”, garante Aurora Teixeira, professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).

Aurora Teixeira lamenta o facto deste plano ser “tardio” e aponta culpas ao motor económico da União Europeia, a Alemanha. A economista critica a chanceler Angela Merkel por “tardar muito em compreender a necessidade de intervenção do Banco Central e das entidades financiadoras”, levando a que este pacote de ajuda “não ajude os países a sair tão facilmente da crise”.

Por outro lado, a economista salienta a falta de coerência que se percebe nas políticas que os líderes europeus têm seguido. “Até agora tivemos uma política mais liberal, assente na lógica de menos intervenção do ponto de vista do financiamento, para evitar a questão da inflação e da desregulação das dívidas públicas”, sendo que este pacote de investimento se aproxima mais da abordagem económica do tipo keynesiano, ou seja, de maior intervenção do Estado na economia. Aurora relaciona isto com a “viragem à esquerda” da França, que advém da possível vitória de François Hollande nas eleições francesas.

Apesar deste fundo já ser dirigido a áreas específicas, como infraestruturas, energias renováveis e tecnologias, a docente da FEP preferia vê-lo aplicado noutros setores da economia, realçando a educação e as empresas. Aurora Teixeira diz ser “apologista de uma visão mais a longo prazo” e chama a atenção para o facto de este montante ter que ser restritamente regulado, visto que, em períodos de “boom” económico, os governo tendem a gastar “à fartazana”. E isto, normalmente, alimenta uma conjuntura de crise. A solução, diz a economista, é embaratecer o crédito, fazendo com que as empresas tenham acesso a este mais facilmente e possam contribuir para o crescimento económico.