Nos dias 26 e 27 de abril discutiu-se o futuro do ensino superior politécnico em Portugal. “Articulação com a Comunidade e Desenvolvimento Regional”, “Reorganização do Ensino Superior”, “Investigação, Desenvolvimento e Transferência de Conhecimento” e “Internacionalização” foram os temas discutidos no IV Congresso do Ensino Superior Politécnico, que teve lugar no Auditório Magno do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP).

Os objetivos do congresso passavam por avaliar o impacto do ensino superior politécnico nas diferentes áreas de intervenção, valorizando a sua contribuição para o desenvolvimento das regiões e promovendo um ensino “altamente direcionado para a empregabilidade”.

A “missão” dos politécnicos no desenvolvimento regional

Em declarações ao JPN, João Sobrinho Teixeira, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), fez um balanço muito positivo do congresso, destacando a importância da decisão de reforçar a aposta no desenvolvimento regional, “uma das missões e particularidades do ensino politécnico”.

Segundo o presidente do CCISP, a cobertura territorial da rede politécnica garante o acesso ao ensino superior em quase todas as regiões portuguesas, promovendo, assim, “não só o desenvolvimento económico, mas também o desenvolvimento cultural e social das regiões”.

João Sobrinho Teixeira, que também é presidente do Instituto Politécnico de Bragança, exemplifica esta forte ligação com as regiões com o caso do próprio instituto que dirige. Em Bragança, existem cerca de oito mil pessoas na estrutura do politécnico, entre alunos, professores e fucionários, numa cidade que tem 24 mil moradores.”É uma garantia na igualdade ao acesso à cultura, na democratização do ensino superior e um dos principais valores da coesão territorial”, acredita.

O presidente do CCISP garante que as preocupações passam também pela “coesão da qualificação” e pela introdução de inovação e tecnologia nos politécnicos. No congresso, foram apresentados projetos para centros de investigação aplicada, cuja missão consiste em “envolver-se com o tecido empresarial e comercial das regiões em que se inserem”.

Internacionalização assente na lusofonia

O professor salienta a qualidade presente na formação, investigação e corpos docentes do politécnico, que é reconhecida internacionalmente. O ensino politécnico português faz parte da rede europeia de Universidades de Ciências Aplicadas (matriz do ensino politécnico europeu), estando neste momento na direção da mesma.

A internacionalização foi outro dos temas que conheceu desenvolvimentos no último congresso. João Sobrinho Teixeira chama a atenção para o crescente desenvolvimento do politécnico nos países de língua portuguesa, como Angola, Moçambique e Brasil e para as potencialidades que isso tem para Portugal.

Do congresso resultou a assinatura de dois protocolos – um com os institutos federais do Brasil, ao abrigo do programa “Ciência sem Fronteiras”, e outro com o estado brasileiro de Pernambuco, onde os politécnicos portugueses se comprometem a “garantir o desenvolvimento do estado brasileiro em maior crescimento económico”.

“Em Portugal não há ensino superior a mais”

Numa altura em que a reorganização do ensino superior está na ordem do dia, o presidente do CCISP acredita que o que interessa é criar cada vez mais condições para a formação. “Em Portugal, ao contrário do que muita gente acredita, não há ensino superior a mais. Há ensino superior a menos”, aponta o professor.

“A questão que se coloca é como é que com menos recursos se podem formar mais portugueses. Entendemos que possa haver uma rede de cursos excedentária em termos de diversidade, mas isso não significa uma redução no ensino superior”, acredita.

João Sobrinho Teixeira garante total disponibilidade por parte do ensino superior politécnico em contribuir para o solucionar essa questão, num regime de consórcio, “mantendo esta malha extensa, mas procurando ganhar dimensão”.