Acha que, em Portugal, a liberdade de imprensa é respeitada?

Para mim, a liberdade de imprensa é a mãe de todas as liberdades. Portanto, nunca há liberdade suficiente. É preciso sempre mais liberdade do que aquela que há, temos de estar sempre insatisfeitos. Em Portugal temos ainda mais razões para isso, na medida em que a crise que nos está atingir não é apenas trazida pela Troika, é uma crise mais profunda. Quando estamos a falar da liberdade de imprensa, chegamos à conclusão que o jornalista tem de ser independente. Mas, depois, deparámo-nos com a realidade, que consiste numa precariedade laboral que faz com que, por mais força que se queira ter, condiciona a liberdade. A crise que vivemos está a diminuir o grau de liberdade que nós precisamos para ter uma informação credível e que corresponda à função social que tem o jornalista.

Em que valências é que as universidades devem apostar para formar bons jornalistas?

A primeira aposta deveria ser em formar grandes cidadãos. O cidadão é a pessoa que tem a formação suficiente para participar na deliberação. A democracia só é feita por escolhas informadas. Nessa ação deliberativa só pode tomar decisões quem sabe. Não é possível sair-se da universidade sem saber. Esse acesso ao conhecimento, no caso do jornalismo, é uma prática diária constante, além daquilo que o cidadão normal deve saber. O jornalista tem que, todos os dias, tomar decisões que são a multiplicação por “n” fatores das opções que o cidadão comum tem de tomar.

Que conselho dá a um jovem jornalista que se queira integrar no mercado de trabalho?

Ser um bom aluno, estar atento a tudo o que se passa à sua volta, ler o mais possível, acompanhar a vida do seu país na pluralidade – nas crises, na política, no desporto – e nunca tirar férias daí. Estudar todos os dias a matéria dada, sendo essa matéria a atualidade.

Como deve ser a relação do jornalista com as redes sociais?

Nós estamos numa fase de mudança e nessa fase nunca se sabe a resposta a essas coisas. A verdade é esta: nos sítios onde essa questão já se colocou, desde a RTP ao “Washington Post” e, até, ao “The New York Times”, o que tem prevalecido até agora – o que não quer dizer que no futuro não se encontre outra solução – é uma espécie de cautela. Uma aviso: “Tu és jornalista, tens um conjunto de responsabilidades perante os teus cidadãos, se vais atuar no espaço público, por natureza da tua função, como jornalista e, depois, vais ter tu próprio uma espécie de heterónimo que está nas redes sociais, a dizer coisas que têm uma posição muito clara sobre isso, esse contrato de confiança e independência que deves ter fica ferido”. É preciso ter cautela, não posso dizer mais do que isso. Dá-me ideia que eu, se estivesse no jornalismo e fosse um homem das redes sociais, como são a maior parte dos jornalistas, optava por esse caminho. Lembrar-me-ia sempre que aquilo que estou a dizer no meu Twiiter ou Facebook pode levantar confusão ao meu leitor que vai ler o meu jornal.