Jornalistas, professores, estudantes e cidadãos estiveram, esta quinta-feira, no Polo das Indústrias Criativas da Universidade do Porto, para discutir “O futuro do jornalismo”. Inserido no projeto “Jornalismo e Sociedade”, este fórum contou com a presença de Gustavo Cardoso, Carlos Magno, Hélder Bastos, Alfredo Maia, Ricardo Jorge Pinto, Tiago Azevedo Fernandes e Adelino Gomes.

Poder editorial discutido no primeiro painel

Em discussão estiveram os temas “Em que medida o jornalismo é diferente de outras formas de comunicação?”, “Que princípios e valores essenciais devem ser preservados no ‘next journalism’?” e “Como respeitar o princípio da verificação no ‘real times news cycle’?”.

“O futuro do jornalismo passa pela salvaguarda do poder editorial.” Esta frase, dita por Carlos Magno, foi a que melhor resumiu todo o debate sobre o futuro do jornalismo. O presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) considera ser “a palavra do jornalista” a que é “preciso preservar”, no contexto do jornalismo que se fará no futuro.

Carlos Magno desviou-se do debate ao falar das competências da ERC, defendendo que o governo “deveria rever a atual lei da televisão”, por esta não estar preparada para o caminho que as novas tecnologias e as sociedades estão a seguir. Terminou com a ideia de que é necessário “produzir reflexão” no ambiente em que Portugal vive atualmente.

Twitter versus jornalismo tradicional

Após algumas intervenções por parte do público, o fórum terminou com as apreciações finais de Adelino Gomes, impulsionador do projeto “Jornalismo e Sociedade”. Além de ter abordado a Carta de Princípios do Jornalismo (também em discussão neste fórum), o antigo jornalista lançou um desafio aos futuros profissionais da comunicação: “colocar os 140 carateres ao nível de uma reportagem de investigação”, referindo-se à plataforma de micro-blogging Twitter como “um ato jornalístico”.

Já Hélder Bastos, professor de jornalismo da Universidade do Porto, apelou para a “reafirmação dos valores tradicionais do jornalismo”. Uma vez que a linha que separa o facto da opinião é cada vez mais ténue, o orador crê que a objetividade deve continuar a ser “um dos princípios fulcrais para os jornalistas”. Disse ainda que é necessário o “combate ao culto da instantaneidade”, por forma a travar “o fast food noticioso”.

No âmbito das redes sociais, Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas, referiu que, apesar das redes sociais serem um meio que pode dar início a muitas coisas, apenas os média tradicionais conferem “legitimidade mediática” a uma determinada situação, dando como exemplo o movimento da “Geração à Rasca”. O quarto orador do fórum alertou a audiência para o facto de um dos problemas estruturais do nosso país estar assente numa contradição: o decréscimo dos hábitos de leitura e a curva ascendente da escolarização. “Isto é um problema de berço”, argumentou.

Confiança e credibilidade no jornalismo

O presidente do Observatório da Comunicação, Gustavo Cardoso, insistiu na necessidade de os jornalistas conhecerem as pessoas, e vice-versa. Caso contrário, não pode haver confiança, algo “imprescindível” para o jornalismo, referiu. “Mais justiça, mais solidariedade e mais liberdade” são os valores nos quais, segundo Gustavo Cardoso, a sociedade deve estar assente para “o jornalismo vingar”.

Na opinião de Ricardo Jorge Pinto, diretor adjunto de informação da agência Lusa, no futuro, vai ser ao jornalismo que “as pessoas, após terem consumido informação”, vão recorrer para “verificar se essa informação é credível”.

Tiago Azevedo Fernandes, criador do blogue “A Baixa do Porto”, disse que “o jornalista tem que ter a humildade de perceber que precisa da ajuda do cidadão” – não sendo certo que isso faça do cidadão um jornalista, ressalvou. Acrescentou, ainda, que os jornalistas que, “infelizmente, têm tempo livre, devem unir-se e fazer o que acham que faz falta ao jornalismo”.