São cada vez mais os adeptos da marmita e da comida caseira na hora do almoço fora de casa, seja no trabalho ou na faculdade, e as vantagens parecem ser muitas: da economia à nutrição. Helena Monteiro trabalha numa loja de bijuteria e há cinco anos que prepara as suas próprias refeições. “Além de ser mais económico, tenho acesso a comida mais saudável, feita por mim, e com mais variedade alimentar”, afirma. Em caixinhas práticas e seguras, Helena leva de tudo: de carne a peixe, de saladas a massas.

Anteriormente, Helena usufruía de um refeitório e, por isso, nunca teve de recorrer a restaurantes. O mesmo não aconteceu com Sónia Silva, empregada do comércio tradicional na rua de Cedofeita, que até há seis anos comia todos os dias fora. “Quando comemos fora, a qualidade da comida não é a mesma”, garante. Por isso mesmo, por questões de saúde, começou a trazer os seus “tupperwares”. A kitchenette que o seu patrão montou nas traseiras da loja acabou por ser “essencial”.

Helena diz sentir uma “saciedade diferente” quando é a “sua comida” e Sónia garante que sente “uma diferença enorme a nível gástrico”. Mas, além de considerarem a comida caseira muito mais saudável, esta é também uma opção por “questões de poupança”. “Estamos a falar de uma poupança média de cinco euros por dia”, afirma Sónia, cuja única preocupação é usar caixinhas próprias para o microondas.

Sete razões para aderir à marmita

Em tempo de crise, a poupança económica é claramente uma das razões mais apelativas, mas muitas outras razões já fizeram das marmitas uma autêntica tendência. E há marmitas para todos os gostos, cores e feitios. A marca Smartlunch, que disponibiliza as “marmitas com glamour” para os mais vaidosos, abriu recentemente uma nova banca no NorteShopping, em Matosinhos. Marta Soares, a responsável pela marca, diz que as marmitas “estão a fazer sucesso no Porto”, depois de já terem conquistado Lisboa.

Mas, além da questão monetária, parecem ser muitas mais as vantagens em se levar marmita. A marca apresenta mais seis: uma comida mais saudável, a possibilidade de controlo em dieta, a redução de custos, um menor desperdício de tempo, a rentabilização dos restos, a estimulação de criatividade nas receitas e, quando vier o bom tempo, o tirar partido do ar livre. Na blogosfera, são muitos os bloguers que já aderiram à moda, mas o novo costume parece também não ter passado despercebido aos estudantes universitários, compradores assíduos no Porto, segundo Marta.

No entanto, ainda não cativaram Joana Miranda, aluna do 3.º ano de Artes Plásticas – Escultura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. A estudante de Granja ruma todos os dias até ao Porto para ter aulas e leva com ela o almoço, mas “nuns saquinhos super simples e numas caixinhas mesmo banais”. Ser vegetariana, não apreciar a comida disponível na cantina por ser “pouca em quantidade e nutrição” e gastar muito dinheiro em material para o curso foram as razões que levaram Joana a aderir à moda da marmita. E não podia estar mais satisfeita.

“A única desvantagem que eu vejo é ter de vir carregada com mais um saco, mas tento trazer comida fácil de transportar e de comer”, afirma. A liberdade de escolha é o que mais a fascina no facto de levar o almoço. “As minhas horas de almoço são sempre variadas e os locais também. Posso comer na cantina com os meus colegas mas também posso ficar no ateliê ou comer no jardim”, conta.

E até chegou a fazer piqueniques, já que muitos dos seus colegas começaram também a levar o almoço, inspirados por Joana. As ementas passam normalmente por massas, saladas e folhados de legumes, mas quando são comidas quentes a senhora do bar “faz o favor de aquecer a comida no microondas”, o que lhe facilita muito a vida.

Comer onde e quando se quiser é uma das maiores vantagens

Para preparar as refeições, Joana acaba por ter de dispensar algum tempo, mas a mãe vai ajudando nesta tarefa. Já Tiago Teixeira, do 3.º ano de Línguas, Literaturas e Culturas, faz tudo sozinho, excepto quando “há sobras do dia anterior”. O aluno da Faculdade de Letras da Universidade do Porto diz que, para ele, não é uma questão de poupar dinheiro ou de nutrição. “No início achei que fosse mais barato começar a levar comida de casa, mas por acaso apercebi-me que não é”, quando comparado com a cantina ou o bar da faculdade.

As ementas também são simples, entre saladas, tostas mistas e comida “muito à base de pão”, conta – e nem acredita que sejam ementas mais nutritivas ou equilibradas. Para Tiago, a real vantagem é mesmo poupar tempo e incómodos nas filas do almoço. “É mais pela possibilidade de comermos todos juntos, longe da pressão da hora de almoço”, explica. Entre os jardins da faculdade, as salas ou o bar, há muitos locais tranquilos por onde escolher.

E, na faculdade de Tiago, a moda já parece ter cativado muitos adeptos. Só no seu grupo de amigos, são muitas vezes “cerca de dez” e é frequente ver outras pessoas com comida levada de casa. É a moda da marmita.