De 7 a 11 de março, o Porto recebe a 86.ª edição dos Grupos de Estudos Europeus de Matemática com a Indústria (ESGI). A organização está a cargo do Laboratório de Engenharia Matemática (LEMA) do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), em colaboração com outros centros de investigação do país.
No primeiro dia do evento, cinco empresas portuguesas – TAP, Sonae Indústrias, INESC, Euroresinas e Neoturf – apresentam, cada uma delas, um problema, a ser resolvido pelo grupo de trabalho. Esse grupo é composto por cerca de 50 especialistas, entre investigadores, alunos de doutoramento e académicos.
Durante a semana, os cinco problemas vão ser discutidos em cinco diferentes salas de trabalho. Os especialistas presentes podem contribuir para a resolução de todos os problemas ou de apenas um e, no final do evento, será apresentado um relatório com as principais conclusões – serão dadas linhas de orientação ou uma solução direta para cada problema, dependendo da amplitude do mesmo.
Estes grupos de trabalho surgiram pela primeira vez no Reino Unido, nos anos 60 do século XX. A partir de 2007, Portugal começou a promover estes encontros anualmente, tendo já resolvido problemas apresentados por empresas conceituadas como a Critical Software, REN, SIBS ou Sonae. Nos casos internacionais, empresas como LEGO, Phillips, Vodafone e Unilever já recorreram a estes grupos.
A transversalidade da Matemática ao serviço da indústria
Manuel Cruz, membro do LEMA e docente no ISEP, avança ao JPN que “o objetivo primordial do evento é utilizar a matemática como auxílio à resolução dos problemas colocados pelos setores da indústria e serviços”.
Esta é já a sexta edição consecutiva do evento em Portugal e o balanço é muito positivo. “Quer o nível de problemas propostos quer o nível de participantes está a aumentar a cada ano”, garante Manuel Cruz. Prova da evolução dos ESGI é também o facto de a TAP, por exemplo, ter estado presente na última edição e estar novamente presente, com um problema diferente. “Estamos a ir de encontro às expetativas das empresas”, conclui.
Este ano, os problemas apresentados pelas empresas vão desde a modelação do processo de impregnação de resina em papel (Euroresinas) até à otimização das tarefas de manutenção e reparação de motores (TAP). As respostas poderão ser dadas através de modelos numéricos e algoritmos.
“A maior vantagem da Matemática é a transversalidade – pode resolver problemas que vão da engenharia aeronáutica até à biologia, passando por problemas de recursos humanos”, afirma Manuel Cruz.
Futuro da Matemática enquanto ciência é risonho
A Matemática é uma área com resultados pobres no ensino português, suscitando cada vez menos interesse por parte dos candidatos ao ensino superior . “Existe uma ideia pré-concebida de que só serve para dar aulas, que quem tirar o curso superior vai passar o dia fechado no gabinete, isolado e a pensar em números e símbolos”, admite o docente do ISEP. “Estes encontros pretendem provar exatamente o contrário”, salienta.
Segundo Manuel Cruz, esse desinteresse vem já do ensino secundário, que não pode ser descurado. “Na Matemática, as coisas são construídas umas em cima das outras. Se há uma fase do processo em que os alunos não são incentivados e há facilitismo, fica mais difícil”, diz, exemplificando: “quem estiver a estudar História, pode não saber nada do século XII mas saber tudo sobre o século XV. Na Matemática, se não souber somar, não vai saber multiplicar”.
Ainda assim, garante o docente, “o futuro é risonho para a Matemática enquanto ciência”. “Não é um bicho de sete cabeças”, conclui.