Um recente estudo do Instituto da Droga e da Toxicodependência sobre o consumo de álcool, tabaco e drogas no meio escolar apresentou dados de que os jovens consomem álcool cada vez mais cedo e em maiores quantidades. Mas esta é apenas uma no meio de várias outras dependências que afetam as faixas etárias mais novas e que já levaram o governo a querer aumentar a idade para consumo de álcool e a reduzir a oferta de tabaco.

“Existe uma necessidade de repetir um comportamento ou experiência, inicialmente pelo prazer que proporciona e, numa fase mais avançada, pelo desconforto que provoca se não for possível o consumo ou a experiência”, explica Zélia de Macedo Teixeira, psicóloga clínica no domínio das dependências e doutorada em psicologia. Neste processo, “há uma componente neurobiológica que não pode ser ignorada”, diz, afirmando que as dependências dos mais jovens “têm maior probabilidade de se prolongarem por mais tempo”.

Uma nova dependência: A Internet

A dependência da Internet é algo difícil de definir, tendo em conta a importância que esta tem, hoje em dia, na vida de qualquer um. No entanto, Fábio Caldas, com 20 anos e estudante da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), considera-se dependente da rede, apesar de admitir que está a reduzir o seu “consumo”. “Em tempo de aulas costumo passar entre quatro a seis horas diárias na Internet. Aos fins de semana passo entre dez a doze e, em férias, uma média de sete a oito horas por dia, consoante estiver bom tempo ou não”, explica.

Fábio assume que há certos hábitos que determinam um certo exagero da sua utilização da Internet. “O facto de estar sempre a fazer atualização da página do Facebook e a a ver quem está no chat” é um dos indícios de dependência. O jovem é, ainda, consumidor de vídeos de humor e de futebol, que vê constantemente. “acho que são sintomas que, no meu caso, parecem normais mas que, visto de fora, parecem ridículos para uma pessoa comum”, confessa.

A redução do consumo que Fábio tem feito deve-se especialmente à preocupação perante as repercussões que estes hábitos poderão ter na sua saúde e vida social. “Às vezes tirava-me tempo com os meus amigos e estava mais tempo num mundo que não era palpável, mas já há uns tempos que tenho vindo a abrir os olhos para essa situação”, diz.

Para Fábio, estar fora de casa ou usar o “smartphone” favoreceu a redução do tempo que passava na Internet. Segundo ele, a acessibilidade do telemóvel significou a redução das consultas a aquilo que é realmente importante.

O “vício” dos jogos online

André Beristain tem 20 anos e estuda no 2.º ano na Faculdade de Direito da Universidade do Porto. Foi um primo que lhe deu a conhecer o jogo gratuito e online “League of Legends”, que começou a jogar há cerca de dois anos. Admite que joga “quase todos os dias” e que a duração varia consoante o dia que tem. Quando está menos ocupado, chega a jogar “entre cinco a seis horas”, embora com pausas. Mas confessa “não ser dependente ao ponto” de sentir falta do “League of Legends” quando está ocupado. “O único mal que pode criar, na minha perspetiva, é que às vezes é mais forte a vontade de querer jogar do que de estudar”, afirma André.

Diz ser “natural” a influência exercida pelos jogadores em trazer mais pessoas para o jogo. Sendo gratuito e online, e constituído por equipas, os convites são frequentemente feitos por amigos e familiares. “As pessoas fazem muito a vida delas virtualmente e esquecem-se da vida pessoal, mas creio que também depende da capacidade de cada um para perceber isso”, argumenta. Não se considera dependente do jogo e dá o exemplo de como o deixa “de lado” na época de exames, quando precisa de se concentrar em estudar.

No entanto, afirma que já houve alturas em que se apercebeu que dedicava demasiadas horas do seu dia à prática do “League of Legends” e que isso já o atrasou na preparação para os exames. “Às vezes penso que podia ter cortado um pouco na vida boémia”, confessa, mas garante que a vida social não é afetada pelas horas em que se isola no mundo virtual. Os pais alertam para a dependência que o jogo pode criar, mas André considera que, visto que é algo que “não existia no tempo deles”, os exemplos que vêem na televisão são o motivo da preocupação.

Álcool e saídas à noite

Raquel de Carvalho tem 20 anos e estuda Ciências da Linguagem na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Atualmente, sai à noite entre seis a sete vezes por semana e consome sempre álcool. O orçamento “varia consoante os planos da noite” mas, em média, gasta cerca de 40 euros por semana.

Admite que, por vezes, bebe mais álcool do que deveria, mas assegura que nunca passou por nenhuma experiência que a tenha levado a arrepender-se da quantidade de álcool que ingeriu. “Por vezes, ultrapasso o meu limite mas tenho sempre consciência do que faço”, garante.

No entanto, Raquel de Carvalho confessa que tem medo que o consumo excessivo de álcool
possa vir a ter repercussões na sua saúde. O sair à noite e consumir álcool com frequência é visto pela estudante como “parte da juventude” e não como uma dependência.

Dependência do café

Na sociedade portuguesa, tomar um café depois das refeições é algo considerado banal no dia-a-dia de qualquer adulto. No entanto há pessoas, como Inês Machado, que consomem uma quantidade acima da média. Inês chega a consumir até cinco cafés por dia, especialmente na época de exames. Fá-lo especialmente pela “rotina” e porque lhe “sabe bem fazer uma ‘pausa’ para ir tomar café”. Mesmo assim, não se considera viciada até porque revê este seu comportamento naqueles que a rodeiam.

Dependência do tabaco

“Neste momento, deixar de fumar não é algo na minha mente”, diz Filipe Valente Silva, de 20 anos. O aluno do 3.º ano do curso de Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, afirma que um dos pais já foi fumador e o outro ainda o é, e que, por isso, a reação dos pais acaba por ser “um misto de não querer saber com reprovação”.

Começou a fumar há dois anos por incentivo de amigos, mas também por curiosidade. Admite que não pensa muito nos efeitos prejudiciais à saúde provocados pelo consumo de tabaco e que, por isso mesmo, os poucos pensamentos que tem acabam por “não ter efeito”.

“Considero-me viciado porque há certas situações em que não sobrevivo sem um cigarro. São as situações que mais me assustam”, confessa Filipe. Afirma que só conseguiria deixar de fumar “reduzindo com tempo” e que, de momento, fuma cerca de cinco cigarros por dia, sendo que o número aumenta quando sai à noite e nas épocas de exames. No entanto, deixar de fumar é algo que não considera urgente.