Nas estantes abundam os livros, com títulos d’ “Os Lusíadas” às “Aventuras de João Sem Medo”. E, apesar de não serem, atualmente, o “core business” da loja, foram os livros que despertaram a paixão de António Maria Torres. Formado em Direito mas sem nunca ter exercido, trabalhou em publicidade durante 25 anos e sempre teve uma adoração especial por objetos de época. Até que em 2010, com 58 anos, arranjou “uma loja nostalgia”, a Passado Presente, retratada no filme “Midnight in Paris”, de Woody Allen.

Na rua Sacadura Cabral, no Porto, António Maria Torres tem peças de coleção, brinquedos, um busto parisiense dos anos 30 ou, ainda, um teatrinho de papel e cartão do século XX. Tudo a preços “dentro do que as pessoas possam pagar”, explica. Na altura de vender, António lembra-se que, “mesmo que muitas peças tivessem um valor muito superior num mercado internacional”, está em Portugal.

António encontra os objetos em leilões e recheios e, como colecionador, acaba por criar uma relação com eles, nem que seja de admiração. “Às vezes é muito complicado ver os objetos sair pela porta fora”, remata.

“Os jovens de hoje têm uma formação estética e cultural muito superior aos da minha geração”

Entretanto, a fórmula “nostalgia” parece funcionar. “Há um espírito nesta loja que faz as pessoas sentirem-se bem, relaxadas”, diz António. Ao JPN, relembra que “alguns professores de Farmácia, quando tinham intervalos maiores entre aulas, iam para a loja sentar-se, ler o jornal e conversar”.

Mas, além de cativar professores, a “Passado Presente” também chama a atenção dos alunos. “Há muita gente jovem a vir até cá, principalmente de Arquitetura e Belas Artes”, diz. António sabe que os mais novos são apaixonados pelos objetos vintage, ao contrário de gerações mais antigas. “Nós vivíamos com grandes horizontes políticos e as nossas ansiedades eram outras”, afirma.

Apesar dos preços mais acessíveis, nem todos têm a possibilidade de comprar os objetos que mais gostam ou precisam. Por vezes, António opta por ser ainda mais flexível, mesmo que isso implique perder grande parte do lucro que obtém nas peças. “No outro dia, veio cá um rapaz que queria oferecer uma prenda ao pai. A questão era: o que é que o pai dele gostava e que dinheiro é que ele tinha para gastar?”, conta. Acabou por levar um livro que valia muito mais do que aquilo que deixou.

Mas nem só os mais jovens sentem dificuldades. Muitas vezes, António vê as pessoas tão interessadas que acaba por facilitar o pagamento em “três ou quatro vezes”. “As pessoas até me mandam fotos ou convidam-me para ir até lá a casa para ver como ficaram as coisas”, conta. E António agradece. O que interessa é que fiquem bem entregues.