Chegou ao fim a semana académica mais apreciada pelos estudantes do Porto. Na noite de encerramento, PAUS e Buraka Som Sistema subiram ao palco da Queima das Fitas para uma festa cantada em português.

Mas às 23h00, o recinto estava ainda bastante vazio. Antes da atuação dos PAUS, viam-se aqui e ali algumas cartolas e bengalas e pequenos grupos de cerveja na mão. Era possível andar de carrossel, comprar cachorros ou jogar matrecos sem qualquer dificuldade, numa altura em que a próprias barracas universitárias ainda estavam a “aquecer”. Nas tômbolas não havia sinal de gente e os donos aproveitavam para treinar as habilidades que, mais tarde, exigiriam aos participantes. O lixo acumulado nos caixotes e o cheiro que pairava no ar acusavam os sete dias de diversão.

Dos acampamentos para os palcos

Já passava das 23h30 quando os PAUS subiram ao palco. Os bateristas Hélio Morais e Quim Albergaria, Makoto Yagyu na guitarra e João “Shela” no teclado trouxeram algumas pessoas de propósito ao Queimódromo, fãs que ultrapassam o público estudantil, como é o caso de Francisca. “Vim para ver PAUS e acompanhar um amigo”, contou a licenciada em arquitetura.

A banda lisboeta, que se conheceu nos escuteiros e escolheu o nome por ter tido de aprender a fazer fogo com paus, arrancou o concerto com um descontraído “Olá, Porto! Quem é que veio para cantar e quem é que veio para beber cerveja?”

Pela primeira vez na Queima das Fitas que, pela dimensão, dizem assemelhar-se a atuar num festival, os PAUS esclareceram a sua identidade musical. “Rock and Roll talvez não seja, mas é rock”, assegurou Hélio. Um rock que, em palco, se distingue pela própria disposição dos músicos, que tocam unidos num quadrado, e pela bateria siamesa em que Hélio e Quim, de frente um para o outro, partilham o mesmo bombo. “É mais fácil de montar e de não nos perdermos”, justificou Quim. Yagyu acrescentou: “Como não nos mexemos muito em palco, fazia sentido juntarmo-nos todos. Somos todos siameses”.

Fazer o que mais se gosta

Mesmo sem andar aos saltos pelo palco, os PAUS deixaram a multidão satisfeita, a julgar pelos jovens que, colados às grades, agitavam tubos insufláveis no ar ao ritmo da bateria, e por um estudante que expressara a sua admiração num cartaz onde se lia “Hélio, dá-me as tuas baquetas”. Mas Hélio não deu. Disse que não havia dinheiro para isso, nem para ir para estúdio gravar um novo álbum, embora vontade não falte. Deixou ainda o conselho de tentarem fazer sempre o que mais gostam.

Foi o que fizeram os cabeça de cartaz, Buraka Som Sistema, que fizeram saltar o público por volta da 01h00. A banda pisou o palco com uma energia contagiante e, a partir daí, a performance só foi melhorando com Blaya vestida de amarelo fluorescente e com pinturas na cara que apareciam e desapareciam consoante a luz.

Durante quase duas horas, os estudantes dançaram e cantaram as letras que muitos sabiam de cor, sobretudo o hit “Kalemba (wegue wegue)”. Enquanto o público dançava, a banda atirava garrafas de água para que a desidratação não condicionasse a energia que imprimiam ao espetáculo. “Não guardamos energia para depois. Tocamos como se fosse o último concerto e sentimos que, depois disso, podemos morrer felizes”, sublinhou Kalaf.

Quase duas horas aos saltos

O baterista despediu-se das baquetas antes do final do concerto que terminou com o novo single, “Tira o Pé”. Com o assistência a pedir mais, os Buraka voltaram para um encore em que convidaram elementos do público a juntem-se a eles, numa coreografia que Blaya fez questão de ensinar. A par das dezenas de raparigas que avançavam o gradeamento, estenderam-se igualmente alguns cachecóis do FC Porto, cidade cuja semana académica a banda elogiou. “É bom tocar na Queima das Fitas do Porto”, afirmou Lil John. “As semanas académicas são positivas porque, em poucas semanas, nos permitem tocar para milhares de pessoas”, acrescentou.

Milhares de pessoas vão poder, igualmente, assistir à performance da banda portuguesa, em agosto, nos Estados Unidos e no Canadá, numa tour que passará por Los Angeles, Toronto e Montreal.

Por volta das 04h00, os estudantes continuavam cheios de energia e com vontade de usufruírem de mais uma semana de festa. A tenda eletrónica estava apinhada, era difícil passar entre as barracas das faculdades, já havia filas para os cachorros, matrecos e carrosséis, e os copos de plástico vazios pintavam o chão. Ainda sem pensar no final, os universitários seguiram o conselho do baterista dos PAUS e estavam concentrados a fazer o que mais gostam. A boa notícia é que para o ano há mais.