As práticas jornalísticas no século XXI e o desempenho dos média na história contemporânea vão estar em discussão em mais uma edição da “International Conference on Media and Communication” (ICMC), a acontecer a 14 e 15 de maio, na Reitoria da Universidade do Porto.

Organizada pelos alunos e professores do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, a conferência conta ainda com nomes estrangeiros como Daniel Hallin, da Universidade de Berkeley, Califórnia, um dos principais oradores, responsável pelo encerramento do evento. Robert Entman, da George Washington University, é também um dos principais nomes, com a intervenção na cerimónia de abertura.

Agendadas estão ainda outras intervenções de nomes estrangeiros, com profissionais de universidades do Reino Unido, Espanha, Itália, Dinamarca e Brasil. As universidades portuguesas vão estar representadas pela Universidade Lusófona, a Universidade Nova de Lisboa e Universidade do Porto (UP). Rui Novais, docente da UP, é um dos organizadores e um dos oradores da conferência.

Os temas em discussão prendem-se com questões de atualidade no domínio académico com implicações sociais, tais como “os desenvolvimentos do jornalismo num ecossistema em evolução e as grandes tendências atuais da comunicação política mediada”.

Jornalismo em discussão

Rui Novais defende que “o jornalismo, pela importância e funções que desempenha, será sempre objeto de debate e de reflexão, porventura mais ainda no contexto atual com circunstâncias de alguma forma excecionais”.

O professor destaca o facto de o fórum “International Conference on Media and Communication” ser um local privilegiado para promover o debate, uma vez que tem à disposição “ key note speakers de relevo e de dimensão mundial, apresentando os principais resultados da investigação que é feita a nível europeu e mundial”. Além disto, Rui Novais saliente ainda que a conferência terá uma dimensão pública mais alargada aquando da “publicação dos trabalhos de maior qualidade”, apresentados no fórum.

Investigação em Portugal

A respeito da investigação jornalística em Portugal, Rui Novais considera que “há até um número considerável de investigadores portugueses presentes no programa”. Um dos projetos em que o professor está envolvido – o do “Mundo do Jornalismo Português” – é o “maior em termos de investigação na área do jornalismo em todo o mundo, integrando mais de 80 países”.

“Pelo que me toca é feita investigação em jornalismo e ao nível do melhor que existe em termos internacionais”, explica. No entanto, o docente considera que a descompensação no painel relativamente a investigadores portugueses pode dever-se ao facto de a constituição dos painéis da conferência ser “o resultado do sistema de arbitragem cega que presidiu à decisão de aceitar ou rejeitar as comunicações propostas, pelo que alguns investigadores portugueses terão ficado retidos na triagem inicial”.

“Outra possível explicação para o fenómeno prende-se com alguma resistência inexplicável de uma franja de investigadores em Portugal que desvalorizam este tipo de eventos de alto calibre apenas porque são em Portugal”, acrescenta Rui Novais. O investigador sente que a conferência é resultado de um “dever de prestar um serviço público a promover a área científica, a investigação portuguesa, a cidade do Porto e o país”.

Com o apoio de duas das maiores organizações internacionais, – a European Communication Research and Education Association (ECREA) e a International Communication Association (ICA) – o ICMC é um “evento ao nível do que melhor é feito em termos internacionais”, considera. “Não temos antídoto contra a miopia e o desinteresse académicos”, afirma Rui Novais.

“Não há impossibilidades, mesmo num cenário de depressão económica conseguem-se organizar eventos desta dimensão com alguma imaginação e esforço”, conclui.

“Há uma longa tradição no jornalismo de investigação”

Daniel Hallin, investigador orador na conferência, considera que há uma “longa tradição no jornalismo de investigação mas que, provavelmente, não está integrada com a ciência social como deveria estar”. O professor na Universidade de Berkeley, Califórnia, afirma que como o jornalismo está sempre a mudar, “há sempre uma necessidade de mais pesquisa e investigação”.

“Os vários atores presentes no panorama da investigação jornalística, quer políticos, quer de grupos sociais, quer por interesses económicos, tentam sempre influenciar a cobertura política”, considera Daniel Hallin. “Realmente influenciam até certo ponto, dependendo do sistema político e de um sistema mediático em particular”, explica.

O investigador americano admite não ser de todo um especialista no que toca ao jornalismo português e pretende aprender mais sobre o que se faz em Portugal na ICMC. No entanto, pelo que leu e pelo que pode falar com alguns jornalistas portugueses, Daniel Hallin considera ser jornalismo sério, com um bom ideal de independência.

Notícia atualizada às 17h08 de 14 de maio de 2012