Chama-se Tiago Brandão Rodrigues, é um jovem português e faz investigação científica na Universidade de Cambridge, no departamento de Bioquímica e no Cancer Research UK. Nasceu em Paredes de Coura e, além do Reino Unido, onde vive atualmente, também já passou por Braga, Coimbra, Madrid e Dallas. Já foi desportista (amador) e, mais recentemente, foi convidado para ser o Adido Olímpico da Missão Portuguesa nos Jogos Olímpicos de 2012.

À equipa da missão, chefiada por Mário Santos e por Nuno Delgado, juntou-se Tiago Brandão Rodrigues, de 34 anos, como Adido Olímpico. O jovem explica que a sua tarefa é, “no tempo dos Jogos”, estar com os atletas “na Aldeia Olímpica e criar as melhores condições possíveis” para dirigentes, treinadores e atletas. O objetivo é que esta “família olímpica” possa “sentir o espaço de forma relaxada e informal” e viver “os Jogos Olímpicos com a concentração e o dinamismo de que precisam”.

Tiago conta, ao JPN, que é sempre criada, pelo Comité Olímpico, uma missão para desempenhar um papel diplomático, “encarregue de trazer os atletas e mantê-los durante o tempo de Olimpíada”. Nesse seguimento, o Comité falou com a embaixada portuguesa em Londres, que referenciou “o nome de várias pessoas que, dentro da comunidade portuguesa no Reino Unido, têm alguma experiência organizativa”. Entre esses nomes estava o de Tiago Brandão Rodrigues.

Após uma ronda de entrevistas, o jovem investigador foi o selecionado. Tiago afirma que aceitou o cargo “com honra e prazer” e que fazer parte desta equipa lhe dá “um gozo e uma satisfação que não são mensuráveis”. Confessa, ainda, que “desde pequeno” vive “o momento olímpico de uma forma muito especial”, dedicando, “religiosamente”, a cada quatro anos, “uma parte substancial” do seu tempo ao Jogos Olímpicos, quer seja “dia, noite ou madrugada”.

Até agora, ainda não foram desenvolvidas muitas atividades no âmbito da missão portuguesa. Ainda assim, Tiago conta que esteve presente “no 2.º encontro de atletas olímpicos em Rio Maior”, onde teve oportunidade de conhecer alguns e “de começar a lidar com eles”. Além disso, esteve “envolvido na receção e na visita a cerca de 25 jornalistas dos meios de comunicação portugueses creditados nos Jogos”. Tiago acompanhou-os numa visita ao parque Olímpico e diz estar “a tentar desenvolver uma relação saudável de comunicação e transparência”.

Tiago Brandão Rodrigues acredita que os portugueses podem esperar dos seus atletas “uma participação” em que estes “vão dar, sem dúvida, o seu melhor”.

De Braga a Coimbra, de Madrid ao Texas

Natural de Paredes de Coura, Tiago mudou-se para Braga para terminar o ensino secundário, onde colaborou num projeto de investigação, em parceria com a Universidade do Minho, e através do qual conheceu “algumas pessoas licenciadas em Bioquímica. “Era uma das áreas que tinha perspetivadas para estudar, mas quando temos 16 ou 17 anos é difícil tomar essas decisões e entender verdadeiramente o que elas implicam”, conta.

Após quatro anos a estudar Bioquímica na Universidade de Coimbra, “surgiu a oportunidade de embarcar num projeto Erasmus” para fazer o estágio final de curso. Tiago conta que rumou, então, para Madrid e, no Conselho Superior de Investigações Científicas, teve “a sorte” de ir para um “laboratório de ressonâncias magnéticas”. Quando regressou, começou o doutoramento baseado nas investigações iniciadas na capital espanhola, particularmente sobre o funcionamento “do metabolismo cerebral”. Embora tenha defendido a tese em Coimbra, “95% da investigação foi feita em Madrid”, tendo estado, ainda, “em Dallas, no Texas”, acrescenta.

Quando esta fase da sua vida se encerrou, Tiago considerou emigrar para o Reino Unido, Suíça ou Estados Unidos da América. A escolha recaiu sobre Cambridge, explica, principalmente pela “credibilidade” que lhe dava o laboratório e a “ciência fascinante” que lá se pratica. O investigador considera que, apesar de ter ” muita tradição”, a Universidade de Cambridge é, “ao mesmo tempo”, muito moderna “na forma de fazer ciência”.

Atualmente em cooperação com o departamento de Bioquímica da Universidade de Cambridge, o neurocientista desenvolve metodologias para a deteção precoce de tumores. O objetivo é criar abordagens que permitam “detetar”, prematuramente, “se os tumores estão presentes em determinado tecido” e “ver se um determinado tratamento está ou não a funcionar” passados “poucos dias depois do início” deste, explica.

Já foram feitos estudos in vitro e em animais e, em breve, o laboratório vai começar, no Hospital Addenbrooke, em Cambridge, “um dos primeiros ensaios clínicos”, assegura o português.

Voltar a Portugal é uma hipótese em aberto

Além de ser vogal do Conselho Fiscal da Portuguese Association of Researchers and Students in the United Kingdom (Parsuk), Tiago Rodrigues também integra a direção da Cambridge University Portuguese Speakers Society (Cuportss). O jovem confessa que, para conciliar tudo, é necessária, além de organização, “muita persistência, principalmente com perda de horas de sono”. Por isso, precisa de “definir algumas prioridades” e, “infelizmente”, roubar “tempo a alguns hobbies e a pequenos luxos” como, por exemplo, visitar mais vezes Portugal.

Fora do país natal desde 1999, Tiago considera que “ser emigrante não é algo fácil” mas, ainda assim, garante que tem vivido em lugares onde se tem “sentido bem, querido e bastante realizado profissionalmente”. Apesar disso, mesmo que não tenha procurado regressar a Portugal, o jovem nureocientista equaciona, “obviamente, a possibilidade de voltar, se assim estiverem reunidas as condições”.