Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam subidas significativas e constantes relativamente às taxas de desemprego – e não mostram sinais de retorno. Os números atingiram valores nunca antes vistos e Portugal está entre os piores da União Europeia. Atualmente, a taxa de desemprego entre as pessoas com menos de 25 anos ascende aos 36,2%, o que corresponde a 154,4 mil pessoas, entre os 15 e os 24, que não têm emprego.
Os jovens acumulam qualificações mas não conseguem emprego. Quando surge uma oportunidade, ninguém está em posição de perdê-la. O que fazer, então, para garantir uma boa entrevista de emprego?
“Há um autor antigo, advogado e político norte-americano do século XIX que dizia: ‘é preferível estar meio nu em frente a uma plateia do que meio preparado’. A preparação é fundamental”, declara Jorge Freitas, treinador de comunicação e fundador da escola de comunicação Falatório – training school. Os candidatos que não conhecem a empresa a que se candidatam revelam falta de pro-atividade, interesse ou empenho, características fundamentais para quem procura emprego.
“A situação de entrevista é sempre uma situação de stress, mas devemos transformar aquele stress tóxico num stress tónico, que nos dá força e não que nos derrube”, lembra Jorge.
Jorge Freitas diz que é preciso ter cuidado com as perguntas que se fazem ao empregador numa entrevista. “Tem de haver uma gestão de equilíbrios de tempos, de ritmos e de perguntas. Tendo em conta que há alguém que vai liderar a entrevista, esse alguém tem de ser o entrevistador, não o vamos substituir”, explica. “Uma das técnicas é ir mais além na pergunta, não nos limitarmos a responder ao que ele pediu, mas sem fazer perguntas”, sugere.
O especialista em comunicação considera que se deve ajustar a indumentária ao contexto, à hora em que vai acontecer, à cultura da empresa. “Vestir-se profissionalmente é vestir-se simples: sem grande ruído, sem grandes acessórios. Vestir-se o mais sóbrio possível, com menos informação possível no corpo em termos de indumentária”, aconselha.
Os primeiros sete segundos
“O nosso cérebro precisa de sete segundos para construir a imagem de uma outra pessoa. Este tempo é vital para tudo aquilo que vai acontecer a seguir, nos 20 ou 30 minutos de entrevista. Nesses sete segundos, o que é que eu posso fazer? Cumprimentar e sorrir. Devemos ensaiar bons cumprimentos, saudações de alto impacto e um sorriso forte. Nunca descurar o primeiro impacto: contacto ocular, sorriso, intensidade do aperto de mão – que deve ser suave e não muito forte -, postura simpática, firme e disponível, mas profissional”, descreve Jorge.
Comunicação não-verbal
No momento da entrevista, a comunicação corporal surge como um elemento vital. “O que o nosso corpo diz – sem o verbo – é fundamental”, explica Jorge. “Um bom candidato é aquele que está determinado com as palavras e seguro no corpo. Não posso estar só determinado no meu discurso e o corpo estar a contrariar essa postura verbal. O corpo tem de estar de acordo com o meu espírito: confiante, seguro”, esclarece. O especialista em comunicação considera que a credibilidade e a estabilidade corporal são cruciais para que o empregador confie no entrevistado.
Jorge Freitas explica que, ainda que o empregador não tenha conhecimento nesta área da comunicação, ela vai influenciar a sua perceção do entrevistado. “O que ele [empregador] tem é aquilo que nós, depois, vulgarmente ou de uma forma menos académica, chamamos de intuição”, refere. Numa situação em que estão dois candidatos, “se um tem uma comunicação global mais eficiente, o empregador pode até nem saber por que é que o avaliou mas vai, inevitavelmente, escolhê-lo”, diz.
Ainda que a maior parte das pessoas seja leiga em termos de comunicação não-verbal, Jorge acredita que “as emoções são transversais ao ser humano”. “As emoções básicas são descodificadas em qualquer parte do mundo, independentemente da cultura. Se estiver confiante, tanto estou confiante aqui como nos Estados Unidos ou noutro país qualquer. A confiança de um indivíduo no corpo não muda em função dos meridianos ou dos climas”, reforça.
A neurociência tem prestado um contributo significativo na compreensão da comunicação não-verbal. Jorge explica que “existem os chamados ‘neurónios de espelho’: se estou sorridente e confiante, os neurónios do empregador, por espelho, vão imitar”. Mas o contrário também sucede: “se não estou confiante há o reverso da situação – o outro também não vai ficar confiante”.
A questão da prática é elementar. “Eu não posso ir para um jogo de futebol com apenas três horas de treino na minha vida. Tenho de treinar, treinar, treinar para perceber as estratégias”, explica. “Mas nós só aplicamos a técnica na perfeição quando nos esquecemos dela. Isto implica entrega, treino, experiência e mais treino. Só assim as coisas saem de uma forma calibrada”, avisa Jorge.
Apesar de reforçar a questão do treino, Jorge Freitas recorda que “o outro [empregador] não pode olhar para nós como um conjunto de técnicas que não são nossas e foram roubadas ali num livro. Nós temos de nos ajustar – a nossa alma, a nossa centelha – às técnicas que existem, sem nunca nos despersonalizarmos”.
Não há regras, palavras-chave ou garantias de sucesso. Neste cenário de incertezas, conta a determinação de cada um. “A palavra-chave acaba por ser: ‘o meu guião'”, remata Jorge Freitas.