Apesar de ser considerado um peso excessivo no Estado, o chamado “Welfare State” tem de ser mexido com “pinças”. Esta é a opinião da antiga ministra das Finanças do governo de Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite, que considera que as mexidas na segurança social “são para ser feitas a longo prazo” e que é perigoso mexer na mesma devido ao “investimento” que os cidadãos fizeram nela.

Já Bagão Félix, sucessor de Manuela Ferreira Leite na pasta das Finanças, tem outra perspectiva do assunto. O antigo governante é da opinião de que “as próximas gerações terão de perceber que um Estado totalizado não existirá mais”. O social-democrata faz também uma analogia com tempos passados, referindo que era mais fácil ser ministro da Segurança Social há “50 anos”, quando as pessoas se “reformavam aos 65 e morriam aos 68 anos”.

Outro dos oradores, Luís Campos e Cunha, julga que “um Estado sobre-endividado é fraco e não pode garantir um Estado Social”. O ex-ministro das finanças aponta as culpas da crise à “política orçamental”, referindo o ano 2009 como a grande viragem descendente de Portugal. Isto devido à “descida do IVA”, enquanto países mais avançados aumentavam este imposto para se protegerem contra efeitos nefastos da crise económica.

Soluções passam mais pela política do que pela economia

Para Luís Campos e Cunha, as soluções para o atual problema da economia não passam tanto por engenharias financeiras mas por propostas políticas. O economista sugere medidas que possam atrair os melhores à política como, por exemplo, o poder da população de escolher deputados e poder riscar aqueles que não gostam das listas. A atração económica para o cargo de deputado também não é a melhor, afirma o ex-ministro, dizendo que a vida de deputado é composta de vilipendiações e de trabalho 12 horas por dia e 7 dias por semana.

Campos e Cunha afirma, também, ser necessária uma independência do governo em relação a interesses de empresas privadas. Para isto ser efetivo, o ex-ministro aconselha a que todas as empresas tenham disponíveis, para consulta pública, todos os contratos que fizerem com o Estado, de forma a poderem ser escrutinados. Com estas soluções, o economista pretende melhorar a “vida democrática” sem a qual não se podem “proteger os pobres e o Estado Social.

Já Manuela Ferreira Leite considera que Portugal tem “margem de desperdício” que pode ser comprimido com alguns “ajustamentos”. A antiga governante alerta, apesar disso, para o facto de se se mexer muito nos salários de alguns profissionais, nomeadamente os dos médicos, estes possam optar pelo setor privado. A social-democrata deixa ainda uma pergunta: “Como conseguir crescimento económico sem austeridade?”