O sol regressou em força este domingo ao parque da Bela Vista para receber os últimos festivaleiros desta edição 2012 do Rock in Rio. Sem nuvens no céu (pintado, antes, pelo ocasional avião que, em direção ao aeroporto próximo, mais parecia que ia bater na roda gigante do recinto a qualquer momento) e com muita animação, milhares de pessoas calcorrearam os diversos espaços de entretenimento do evento, enquanto esperavam pelas atuações.

No Sunset, Carminho e Rui Veloso foram dois dos pontos mais altos do dia, com atuações que fizeram as delícias dos apreciadores de música portuguesa. Na Rock Street, o último dia de atuações no coreto continuou a chamar muita gente para dançar, ao ritmo de Nova Orleães.

Mas era no palco Mundo que todas as atenções estavam realmente viradas. E não era para menos, ou não fosse o último concerto da noite o de Bruce “The Boss” Springsteen. A abrir as hostilidades estiveram os Kaiser Chiefs, que começaram o espetáculo com um público morno e que parecia não os conhecer. O vocalista, Ricky Wilson, tentou de tudo para acordar a Bela Vista durante as primeiras músicas, mas sem grandes resultados. Quem já conhecia Wilson de outras andanças, esperou praticamente o concerto todo pelo “grito de Ipiranga” do vocalista, já praticamente sem mais ideias para captar a atenção de quem estava ali claramente para ver James e Bruce.

A poucos minutos do final da atuação, Wilson lá conseguiu virar o público a seu favor. Num momento de improviso, Wilson abandonou o palco em segundos, para pânico dos seguranças, e correu em direção ao slide do recinto, de onde cantou para a multidão enquanto deslizava. Foi tudo o que precisou para deixar a multidão em delírio e completamente rendida. Se poucos conheciam a banda inicialmente, no final todos pareciam rendidos às evidências, respondendo aos “We Are the Kaiser Chiefs” incessantes do vocalistas com odes ao nome da banda. Ricky Wilson já pode dizer que leva para casa mais uns quantos milhares de fãs portugueses.

Seguiram-se os James, muito aguardados no recinto. Numa atuação melodiosa, acabaria por ser a última música, Sit Down, a causar mais alvoroço. Antes, os hits de outros tempos, de que é exemplo “Sometimes”, elevaram a fasquia e prepararam o público para o que se seguiria. Um concerto a reter na memória, especialmente para os ainda numeroso fãs da banda por terras lusas.

Discos pedidos ao ar livre

Já os Xutos & Pontapés, a quem caberia a tarefa de abrir para o “The Boss”, estiveram iguais a si próprios na Bela Vista. Depois de passarem pelo palco Sunset há uns dias, voltaram a dar espetáculo, desta feita no palco mundo. Entre os inúmeros êxitos, há que destacar o primeiro a entoar no recinto, “Contentores”, “A Minha Casinha”, já na reta final do espetáculo, e “Para Sempre”, que encerrou em beleza o concerto.

Finalmente, Bruce Springsteen, por quem tantos esperavam, subiu ao palco, com 20 minutos de atraso, para provar a quem tinha dúvidas as mil e uma razões que explicam a sua alcunha.

O concerto, que durou até perto das três da manhã, fica na memória como um dos melhores de todas as edições do Rock in Rio por cá. Sem perder a humildade, Bruce Springsteen espalhou carisma e não parou em palco, fazendo questão de interagir com todos os fãs que encontrasse e satisfazendo os mais variados pedidos. Qual génio da lâmpada, depressa transformou o concerto numa espécie de sessão de discos pedidos ao vivo, interrompendo a setlist programada para cantar as músicas que os fãs iam pedindo através de cartazes. Pelo caminho também houve tempo para chamar ao palco uma criança que, na primeira fila, não parava de cantar para ele todas as músicas e para, mais tarde, dançar com duas mulheres que pediram essa oportunidade. Fica a ideia de que Bruce Springsteen estava disposto a fazer o que quer que lhe fosse pedido durante o concerto.

Um dos inúmeros momentos da noite surgiu com Hungry Heart, uma das tais canções que não estavam no alinhamento, mas que foi pedida por um cartaz, “roubado” por Springsteen ao público. “Born in the USA” foi, claro está, outro dos pontos altos da atuação, a que se seguiria o não menos aclamado “Born to Run”. A noite acabaria em apoteose ao som do fogo de artifício e de uma versão de Twist and Shout.

Na última noite, 81 mil pessoas passaram pela Bela Vista. A festa regressa à capital em 2014.

Notícia atualizada às 12h05 de 5 de junho de 2012