Foi em 2008 que Hélder Pombinho começou a desenvolver o projeto que viria a ganhar o concurso da UEFA para a imagem oficial do Euro 2012. Depois de já ter sido um dos responsáveis pelo layout do Euro 2004, o projeto Euro 2012 é uma experiência completamente diferente da de 2004 em Portugal.

Descobrir a Polónia e a Ucrânia

Quatro anos após a criação do projeto, Hélder afirma que uma das coisas interessantes é olhar, já com alguma distância e ver a evolução que o projeto teve. Porém, o designer salienta que a ideia original nunca se perdeu. O conceito chave surgiu numa fase muito pioneira do projeto, quando a equipa andava à procura de tudo aquilo que podia ser útil saber sobre a Polónia e a Ucrânia. “Ao contrário de Portugal, em 2004, não sabia nada sobre estes dois países”, confessa.

Hélder reconhece que a Polónia e a Ucrânia eram dois países sobre os quais não tinha grande conhecimento. “Não conhecia a componente cultural e social destes dois países, que é riquíssima”, admite.

Foi, por isso, necessário procurar uma inspiração no início do processo, marcado pela recolha de informação. Hélder afirma que, a certo ponto, “faltava de alguma maneira encontrar uma ideia principal, a ideia chave para desenvolver o projeto”. Durante a pesquisa, a equipa de designers viria a perceber que existiam, na Polónia e na Ucrânia, poucas coisas em comum. “Além de duas línguas quase indecifráveis para um português, o que dificultou um pouco o processo, essa foi uma das grande dificuldades”, explica Hélder.

A certo ponto, a equipa começou a “perceber que havia uma ideia muito forte, uma ideia em comum – a de aproveitarem o Euro para crescer do ponto de vista social e do ponto de vista económico”. Este foi o primeiro fator a ter em conta na pesquisa feita. Hélder sublinha que “esta é a grande oportunidade deles, em que as atenções vão estar todas viradas para eles”. “Querem mostrar ao resto da Europa capacidade de organização e também um conjunto de outras coisas, que para mim, enquanto cidadão europeu, eram uma incógnita”, confessa o designer.

A Ucrânia e a Polónia “não são países óbvios de destino turístico”, sendo o Euro uma porta aberta para um “conjunto de coisas novas que vão acontecer naqueles países, que lhes vai permitir tirar o máximo proveito”.

O segundo fator a ter em conta por parte da equipa foi como “demonstrar a ideia do crescimento ligada ao futebol e, consequentemente, a estes dois países“. Aí entra o facto de os dois países sempre terem sido vistos como “dois países agrícolas, com um património do ponto de vista agrícola absolutamente formidável”.

“Encontrámos uma única expressão artística comum aos dois países de raiz popular que achamos que podia ser interessante que foi a ligação ao culto da terra e da fertilidade – nomeadamente a wycinanki, explica. A wycinanki é uma técnica que se faz “desde muito cedo” e “que consiste em cortar folhas de papel e fazer naprons”. “Eles ‘inventaram’ um pouco isto e fazem-no como uma espécie de demonstração à terra usando motivos de ligação à terra, como uma espécie de dádiva aos deuses. Depois penduram nas portas das casas como forma de tentar atrair a fertilidade”, explica.

Estes foram os fatores que deram origem ao conceito. “Foi uma questão de desenvolver graficamente a forma de inspiração, estudar as formas e as cores, tentar traduzir isto no universo do futebol”, afirma Hélder.

Foi na fusão de conceitos que surgiram as plantas que deram origem aos estádios, a bola e todo o design. Hélder realça que uma das preocupações foi criar “símbolos para algo que vai dar uma origem a uma espécie de património”. “À semelhança de Portugal e ao contrário da Suíça, a Polónia e a Ucrânia também têm um conjunto de estádios novos que estão a nascer, sendo um factor importante para eles, um marco físico”, explica.

A caminhada de 2004 a 2012

A experiência 2004 foi completamente diferente diferente daquilo que Hélder espera de 2012. “Ter a oportunidade de ter a experiência ao vivo daquilo que foi a reação à marca e ter o próprio evento cá e participar nele da parte de dentro foi diferente”, afirma Hélder. O designer afirma que a experiência 2004 deu para ver as “reações que as pessoas iam tendo, tudo o que tinha a ver com identidade e marca”.

O Euro 2004 foi uma experiência que “ainda hoje muitas pessoas lembram”. “Quando olham para a marca, ela volta à memória”, diz. “É uma marca que todos conhecemos, da qual todos nos lembramos e que nos traz boas memórias, marcou a história do país e está perpetuada naqueles que o viveram”, lembra. Já a experiência de 2012 vai ser um pouco diferente, “à distância, com culturas muito diferentes, mas muito boas expetativas”.

Ganhar novamente o concurso da UEFA “foi um pouco a gestão de expetativas”. “A UEFA é extremamente reservada e pede sigilo absoluto para que não haja qualquer tipo de fuga de informação para que sejam eles a controlar tudo”, explica. Hélder e a equipa só puderam partilhar notícia da vitória no concurso “um, dois meses” depois de saberem. “A primeira coisa que nos pediram foi para não dizer a ninguém, o que é a pior coisa que se pode pedir a alguém que quer dizer ao mundo que ganhou”, conta.