Ao segundo dia, o sol brilhou com mais força e os calções foram umas das peças de vestuário mais famosas entre os festivaleiros. Depois da “receção” no primeiro dia ter sido feita entre dois palcos (Optimus e Primavera), chegou a vez de inaugurar os restantes “pontos de encontro” para os que fazem do Parque da Cidade um marco de visita obrigatória até mais logo à noite.

Mas vamos com calma. Os Linda Martini abriram o dia pelo Palco Primavera e mostraram, mais uma vez, que são feitos para tocarem ao vivo e para aumentarem o ritmo cardíaco e as pulsações de quem assiste ao espetáculo. Hélio Morais foi o “mestre de cerimónias” da plateia que se juntou para comprovar, mais uma vez, que os Linda Martini não sabem falhar. Aos primeiros acordes, já os corpos pedem para dançar e os braços já se agitam freneticamente. A certa altura, Hélio agradece ao público por ter vindo “tão cedo”: às 17h00 já muita gente estava pelo Parque da Cidade, num dia em que cerca de 23 mil festivaleiros mostraram que toda a gente é bem-vinda pelo Primavera Sound. E porque a música “não tem idade”, banda e o público entoam a uma só voz “Juventude Sónica” enquanto os decibéis vão aumentando o ritmo dos corpos e das danças. Um espetáculo que só terminou depois da homenagem ao cineasta Fernando Lopes e de Hélio Morais, para delícia do público, ter feito “crowd surf”.

De seguida, foi a vez dos também portugueses We Trust, de André Tentugal, subirem ao palco Optimus. Satisfeitos por estarem no Porto, a banda não esqueceu de agradecer a presença dos festivaleiros. Um concerto que serviu para brindar, de forma tranquila, quem estava a chegar ao Parque da Cidade.

Sons quentes e com cheiro a maresia

Às 19h00, chegou a vez de “cumprimentar” o palco ATP. Mas antes, passámos pelo concerto dos Yo La Tengo que iam conquistando o público através das melodias e do ritmo viciante dos seus temas. Mas a nossa “missão” era outra: embarcar numa viagem musical num veleiro muito especial. Pelo palco ATP, os Tennis encheram a clareira que serviu para acolher os fãs da banda e os que foram atraídos pelas sonoridades frescas e de sabor marítimo. Bonita e sempre simpática, a vocalista Alaina Moore, de sabrinas vermelhas e cabelo solto, leva-nos até à beira-mar numa mistura de temas pop cheios de brilho e que não deixaram ninguém indiferente. Um final de tarde repleto de boa disposição e sorrisos simpáticos.

Enquanto nos dirigimos, novamente, para o palco Optimus, os festivaleiros vão cantando e conversando num cenário bucólico que transmite boas-energias. E porque não existem fronteiras, ouvimos espanhol misturado com inglês, francês e português, numa espécie de “melting-pot” musical. À hora marcada, Rufus Wainwright sobe ao palco de calças brancas, blazer preto e óculos de sol. Com uma mão cheia de temas melodiosos e frescos, o artista não esquece a Grécia (pede para rezarmos por eles em “Greek Song”) e o clássico “Hallelujah”. Acompanhado por uma banda poderosa, Rufus Wainwright mostrou que a música pop está viva e recomenda-se, sem a necessidade de outros arranjos ou batidas.

Música, luz e confetis

Conscientes de que os arranjos e batidas iam aumentar de ritmo e de volume, estávamos ansiosos pelo concerto dos norte-americanos The Flaming Lips: afinal de contas, o palco estava apetrechado de balões e contava, ainda, com uma bola de espelhos magnífica.

Ainda não sabíamos, mas estava prestes a começar o “espetáculo da noite” pelo Primavera Sound. Com uma energia inesgotável, o concerto arrancou com uma festa de confetis e com dezenas de “majorettes” que passaram todo o concerto a dançar freneticamente em cima do palco. Um espetáculo de luzes, cor e som, numa espécie de parque de diversões para os mais crescidos que não deixou ninguém indiferente.

Wayne Coine mostra, mais uma vez, que a sua entrega em palco é total e faz, logo de início, o número de “crowd surf” enquanto está dentro de uma bolha gigante. São estes “miminhos” que levam o público ao rubro e deixam tudo e todo hipnotizados. O espaço parece pequeno para receber quem quer assistir ao espetáculo dos Flaming Lips: ainda assim, toda a gente dançou e vibrou com os rasgados elogios da banda ao festival e à cidade. Um espetáculo que termina ao som de “Do You Realize?” e com todas as mãos no ar a saudar a banda por um espetáculo tremendo que não vai sair da memória dos festivaleiros tão cedo.

Na mesma altura, os Black Lips atuavam no palco Club perante uma plateia rendida à música da banda. Um espaço cheio e que contou com algumas peripécias em cima e fora do palco. Um concerto forte e bem conseguido que conquistou todos os que se deslocaram até à “tenda” do Primavera Sound.

Espaço pequeno para música gigantesca

No mesmo local, Neon Indian pôs os festivaleiros a saltar aos primeiros acordes. Não há espaço para tempos mortos e as coreografias são feitas de olhos fechados e de sorrisos rasgados. Os sons psicadélicos contagiam toda a gente e ninguém resiste a entoar as letras de temas como “Deadbeat Summer” ou “Fallout”. Alan Palomo fez suar todos os que assistiram ao espetáculo e agradeceu o carinho do público no último concerto da digressão.

Perto da uma da manhã, os Beach House mostraram que mereciam bem mais do que o palco Club. O espaço era pequeno para receber todas as pessoas que queriam assistir ao espetáculo da dupla de Baltimore. Infelizmente não apreciámos grande parte do concerto: a confusão não permitiu que estivéssemos de pedra e cal até ao final, mas quem viu disse, sem margem para dúvidas, que foi um espetáculo memorável. Resta-nos esperar que os Beach House regressem ao Porto para nos brindarem com os temas mágicos e melodiosos a que já nos habituaram.

Do outro lado do recinto, os Walkmen apresentavam o novo trabalho, que parecia já ter alguns fãs, a avaliar pelas mãos no ar bem junto ao palco. Ainda assim, a postura rija da banda não convenceu todos os festivaleiros que assitiram ao espetáculo. Uma atuação que soube a pouco e que provocou algumas desistências ao longo dos 60 minutos do concerto.

Mas no palco Optimus, bem ao lado, já muita gente se preparava para exorcizar o frio da madrugada. Os M83 subiram ao palco cheios de energia e fizeram dançar os milhares de festivaleiros que se concentraram em frente ao palco. Um espetáculo de luz e de som contagiante que nos levou ao espaço numa viagem musical frenética comandada pelos teclados e sintetizadores.

Hoje, pelo Parque da Cidade, temos Dead Cab for Cutie, Kings of Convenience, Saint Etienne e os The XX. Mas é preciso guardar energias: o festival ainda só vai a meio.

Notícia atualizada às 14h32 de 9 de junho