São pequenos vírus DNA que não se veem a olho nu, nem ao microscópio. Assim, podemos começar por descrever os HPV, que não se limitam apenas ao cancro do colo do útero. São muito mais complexos e dividem-se em cerca de 180 tipos.

Os HPV infetam os vários tecidos epiteliais, incluindo a pele (HPV cutâneos ou dermatotrópicos) e as mucosas da zona anogenital e do trato respiratório superior (HPV mucosotrópicos). Os HPV mucosotrópicos podem causar verrugas genitais, condilomas e, em última análise, podem originar cancro do colo uterino, como explica Rui Medeiros, do Serviço de Virologia do Instituto Português de Oncologia do Porto.

Uma outra característica deste vírus é que podemos tê-lo sem saber. O HPV transmite-se através do contacto pele a pele ou mucosa a mucosa e pode estar presente no nosso corpo seis ou mais meses sem qualquer sintoma. “Só passada essa altura é que se consegue ter uma resposta imunitária suficientemente forte para o eliminar”, refere o especialista. É algo que pode ser temporário, como o caso das verrugas cutâneas ou cravos que podem surgir na nossa pele e que levam algum tempo a desaparecer.

Mas são os HPV oncogénicos ou de alto risco, presentes na área anogenital, transmissíveis principalmente através da atividade sexual, os mais perigosos e os mais referidos quando se fala em HPV, devido à ligação com o cancro do colo do útero. “80% dos casos de cancro do colo do útero são originados por dois HPV: o 16 e o 18”, salienta Rui Medeiros. Porém, nem todas as mulheres com estes tipos de HPV desenvolvem esta doença. Podem, aliás, nem ter qualquer tipo de problema.

Fatores que influenciam o desenvolvimento de cancro

Além da existência de infeção com HPV oncogénico, a probabilidade de desenvolvimento de cancro vai depender de vários co-fatores que aumentam o risco, podendo acelerar o processo, como são os casos do fumo do tabaco, que entra na corrente sanguínea, das hormonas presentes nos contracetivos orais ou fatores genéticos, por exemplo.

“Sob a influência de um HPV oncogénico podem ser necessários de 10 a 15 anos na evolução para cancro”, explica. “Existem algumas fases intermédias, a que chamamos de lesões preneoplásicas, que podem ser detetadas no rastreio. Daí a sua importância”, acrescenta. A probabilidade de ter cancro relaciona-se, também, com a persistência do vírus que, após uma fase de latência, pode reaparecer, provocando as lesões passíveis de serem detetadas pela citologia, classicamente designada como teste de Papanicolau.

Este exame não deteta a presença do HPV, mas sim de alterações nas células ou lesões do colo do útero. Alguns estudos revelam que este método só é eficiente em 60% dos casos. “O ideal seria que, ao mesmo tempo em que é realizada a citologia, fosse realizada a deteção do HPV. É um método muito mais sensível e pode também servir para a necessidade de uma vigilância mais apertada”, diz.

HPV está mais presente nas mulheres

É um facto que o HPV se encontra associado maioritariamente às mulheres. A pergunta que se pode colocar é porquê. “No colo uterino existem vários fatores favoráveis para a multiplicação do HPV. Mais ainda, as mulheres são portadoras de estrogénios em alta dose, o que favorece o HPV”, responde Rui Medeiros, do Serviço de Virologia do Instituto Português de Oncologia do Porto.

O HPV manifesta-se também nos homens, através de lesões relacionadas com os condilomas ou verrugas genitais. “Este vírus raramente origina cancro no pénis, mas pode provocar cancro na cabeça e no pescoço”, esclarece o investigador e professor universitário. 20% destes casos de cancro são originados pelo HPV, o mesmo tipo de vírus com preferência pela área urogenital.

O que dizem os estudos mais recentes

Investigações mais recentes sugerem a administração da vacina também aos rapazes. “Se além de vacinarmos as raparigas, vacinarmos os rapazes a eficiência na erradicação do cancro do colo uterino é muito elevada”, explica Rui Medeiros, citando um estudo atual.

O tratamento do HPV propriamente dito consiste somente no tratamento das lesões associadas, visto que não existe nenhum antivírus específico. “Há alguns estudos que sugerem um reforço da imunidade para eliminar o HPV e ao fazê-lo as lesões desaparecem”, refere.

Quanto ao que ainda falta fazer e investigar em relação ao HPV, Rui Medeiros diz que é necessário monitorizar e perceber a eficácia da vacina nas populações e no seu perfil epidemiológico no que concerne aos vários genótipos deste vírus e apostar na educação sexual dos jovens, em relação a esta Infeção Sexualmente Transmissível (IST). No plano nacional de vacinação, a vacina contra o HPV é administrada aos 13 anos, mas a faixa etária pode ir dos 9 até aos 45 anos de idade.