Quando André Guiomar terminou a curta-metragem documental “Píton”, não fazia a mínima ideia do potencial do projeto que tinha entre mãos. “Na altura tinha meramente a ideia de entregar o trabalho na universidade”, recorda ao P3, dias depois de ter visto a sua curta-metragem ser premiada mais uma vez, desta feita com o primeiro lugar do NY Portuguese Film Festival.
Foi por insistência do professor de curso Carlos Lobo que acabou por ir enviando o trabalho para festivais. E a difusão rapidamente se revelou uma aposta ganha: conseguiu o prémio do Festival Black & White, em 2011, e tem rodado em vários países.
O projeto começou a desenhar-se na cabeça de André Guiomar numa conversa com a mãe. Ela comentava com André que Juliana Rocha, uma miúda da aldeia onde moravam, era tri-campeã nacional de boxe (atualmente é tetra-campeã). “Achei estranhíssimo”, recorda André.
Boxe e um ar angelical
Quando chegou a altura de desenvolver um projeto final de curso, na licenciatura em Som e Imagem que frequentava na Universidade Católica, no Porto, não hesitou: tinha na vida de Juliana a sua história. Rapidamente descobriu que falar da pessoa “humilde, simpática e com um ar angelical” que reconhecia em Juliana, era necessariamente juntar-lhe os nomes do pai Álvaro Rocha e do treinador Pinto Lopes.
O NY Portuguese Film Festival, promovido anualmente pelo Arte Institute, é um festival de curtas-metragens portuguesas nos Estados Unidos, que procura o que de melhor se faz entre a nova geração de realizadores.
O documentário “Píton“, de 20 minutos, todos filmado a preto e branco, foi gravado com uma câmara fotográfica, uma objetiva fixa, um tripé e um captador de som, tudo controlado por André Guiomar.
Sair e regressar
Mas o jovem de 24 anos descobriu tarde a ligação ao cinema. “Não é uma história romântica de nasci e queria ser astronauta e realizador”, brinca. A primeira vez que pegou numa câmara de filmar e fotográfica foi mesmo no decorrer do curso na Universidade Católica, para onde entrou depois de uma passagem fugaz pela Faculdade de Ciências (desistiu um mês depois) e de um ano em casa a refletir sobre o futuro.
“Supostamente ia ficar um ano a melhorar notas para entrar noutro curso. Quando descobri este curso e a panóplia de áreas que cobria vi que podia começar do zero ali”, explicou.
Atualmente está a terminar a dissertação de mestrado e em setembro vai iniciar um estágio profissional numa empresa da área. Projetos para o futuro? “Tenho mil ideias…”, hesita. “Gosto muito de Portugal, mas desde miúdo que tenho o sonho de sair, provavelmente para o continente africano, e depois regressar, mais tarde.”