A zona histórica continua a ser um dos pólos de atração da cidade Invicta. Perto da Sé, numa porta ao lado da Igreja de Santa Clara, fica a entrada de acesso ao que resta da muralha fernandina. Vista por quem atravessa o tabuleiro de cima da ponte Luís I, ou por quem viaja de funicular, a muralha desperta a curiosidade de alguns turistas que, na sua maioria, desconhecem o seu acesso.

Karma Helga, turista austríaca que estava a olhar para a muralha, diz nunca ter ouvido falar da edificação e confessa não haver qualquer informação no guia turístico. Ania, turista francesa, afirma também, à saída da igreja de Santa Clara, que desconhecia a existência de uma muralha, muito menos do seu acesso.

Apesar das ruínas serem segredo para alguns, há pessoas que visitam e conhecem a sua história. Ricardo Santos, estudante, ganhou interesse pela muralha há quatro anos por intermédio de colegas. A falta de divulgação e o díficil acesso são algumas das falhas que o estudante, um visitante regular, aponta. Para Ricardo, a Muralha Fernandina “merecia mais turistas e mais portugueses”.

Os que conhecem a muralha partilham da mesma opinião de Marcelo Silva, turista brasileiro. “Tem uma vista muito bonita do rio e de toda a cidade do Porto”, diz. O turista conta ter vindo para visitar a igreja de Santa Clara e ter encontrado “uma senhora que indicou que existia um miradouro”.

Apesar destes fatores, e contrariamente ao pouco que alguns turistas mostram saber sobre a muralha fernandina, o monumento tem bastantes visitas. O número de visitantes depende de dia para dia, mas o Instituto Nacional Doutor Ricardo Jorge (IDRJ) acredita que irá potenciar a afluência a este marco da cidade do Porto, com o projeto do Museu da Saúde.

António Oliveira vigia a porta de acesso à muralha fernandina há dois anos. Contrariamente ao que dizem alguns turistas, António Oliveira explica que há bastante afluência a passar pela porta que vigia diariamente, tanto de turistas como de moradores. A muralha chega até a receber, esporadicamente, visitas de estudo, sendo que durante a manhã são mais as pessoas que a visitam.

Nas antigas instalações do Instituto Ricardo Jorge, no largo Primeiro de Dezembro, existe um projeto, levado a cabo pelo Instituto, para recuperar os edifícios existentes e construir no local o Museu da Saúde. O objetivo do projeto é promover exposições sobre a saúde mas também o de ser um local de divulgação da cultura científica de interesse ao ensino superior na área.

Além das funcionalidades práticas do futuro edíficio, está também planeada a construção de uma esplanada, precisamente por gozar da vista panorâmica que os visitantes da muralha fernandina buscam. O instituto acredita, portanto, que este novo projeto potenciará a zona. A entrada na muralha fernandina pode ser feita de segunda a sexta-feira até às 17h00.

Uma muralha com muita história

A muralha fernandina é uma parte inevitável da paisagem portuense. Aparece no lado esquerdo na ponte D.Luís, um pouco na sombra da mesma.

As muralhas foram mandadas construir pelo rei D.Afonso IV, em 1336, uma vez que a antiga cerca medieval se estava a tornar demasiado pequena para as proporções que a cidade tomava. Adotou o nome de Fernandina, uma vez que, na altura da sua conclusão, em 1376, decorria o reinado de D.Fernando.

A muralha, depois de concluída, tinha várias portas e postigos dispersos pela cidade e rodeava a Invicta, deste o trecho de São João Novo, junto à igreja de Santa Clara na batalha – o seu único indício visível. Extendia-se pela praça da Batalha até ao largo da Cordoaria, atingindo a rua da cordoaria velha – já do lado direito da ponte da Arrábida – até à Alfândega, voltando ao encontro do trecho que ainda hoje perdura. Das ruínas existentes ainda se pode ver, também, o postigo do carvão, na zona da Ribeira, local por onde entrava o combustível que abastecia a cidade.

A edificação foi sendo destruída ao longo dos séculos, especialmente por causa do alargamento e crescimento da cidade. A muralha era um obstáculo para a criação de novas e largas ruas, à medida que a cidade se desenvolvia.