Como e quando surgiu a paixão pela fotografia da natureza?

Comecei por gostar de fotografia devido a uma forte paixão pelo mundo natural. Desde muito novo que vivo rodeado por animais domésticos e selvagens e sempre fui educado para os respeitar. Foi a curiosidade que me levou a querer registar os momentos únicos que me proporcionavam para mais tarde os relembrar. Mas, na fotografia, o que mais me seduz é a fotografia noturna, pela sua dificuldade e originalidade e também porque me interesso bastante pela astronomia e pela natureza

Tem várias fotografias captadas à noite. O que mais o fascina na natureza durante a noite? Estas fotos são mais ou menos difíceis de captar?

O que me fascina é a magia da noite. É, para muitos, um mundo oculto e desconhecido. A noite possui imensas possibilidades fotográficas com os seus céus estrelados, a luz da Lua, as suas criaturas misteriosas e vistas por muito poucos. Uma chuva de estrelas, uma trovoada, um caracol que sai para comer ou uma gineta que passa por uma árvore é algo difícil de ver de dia, mas quando acontece de noite, a sensação é fantástica. As fotos noturnas requerem outras técnicas não só de captação, mas também de processamento. A longa exposição domina a maior parte das fotos porque a luz durante a noite é quase ausente. Não as considero mais ou menos difíceis do que as fotos tiradas durante o dia. Exigem apenas uma abordagem diferente.

O que é necessário para se tirar uma boa fotografia noturna?

Em primeiro lugar, paciência. Tal como durante o dia passamos horas dentro de um esconderijo para fotografar um animal, durante a noite podemos esperar várias horas para que a luz entre no sensor. É igualmente necessário um estudo prévio do terreno não só para conhecer o que vamos fotografar, mas também para acautelar possíveis situações que afetem a nossa segurança. De resto, para que se faça uma boa fotografia é melhor fazer o trabalho de casa e saber o que se quer.

Qual foi o elemento da natureza mais desafiante de fotografar?

Não considero nenhum em especial mais desafiante. Todos os assuntos à noite o são. Apenas apresentam diferentes graus de dificuldade técnica. Pelo perigo constante e pela emoção associada, talvez a fotografia de relâmpagos seja uma das mais difíceis.

O que lhe dá mais prazer fotografar?

Sem dúvida que são os rastos de estrelas. Gosto de ver e mostrar o resultado de várias horas de exposição. O resultado é sempre uma imagem invulgar. Sinto-me muito à vontade em ambiente noturno e habituei-me a visualizar facilmente os resultados finais antes de fazer as fotos.

Costuma estudar o que vai captar antes de ir para o terreno? Que tipo de preparação faz?

Noventa e oito por cento das fotos que faço são pensadas previamente. Algumas são pensadas com vários meses de antecedência em vez de dias. Faço sempre uma análise prévia das condições atmosféricas, da localização do Sol ou da Lua, dos quilómetros a percorrer, de quanto tempo vou necessitar, etc.

Quais são os grandes desafios de um fotógrafo de natureza? Que características tem de ter?

A criatividade é o maior desafio que um fotógrafo de natureza enfrenta. Com a proliferação do digital, hoje em dia qualquer pessoa com uma máquina digital é um potencial fotógrafo de natureza. O fotográfo de natureza tem de ser original e atual naquilo que fotografa. É fundamental conhecer o mundo natural, conhecer o mercado, conhecer o trabalho dos outros fotógrafos. Acima de tudo tem de ser um apaixonado e ser paciente sabendo que a espera compensa.

Quais são as principais dificuldades que enfrenta quando vai para o terreno?

Existem principamente duas: as condições climatéricas e as pessoas, apesar da primeira ser mais previsível. Já tive desde gente a espantar os bichos por quererem ver o que se estava a passar, piqueniques em frente ao esconderijo, a GNR a querer saber o que se passa e a apontar as lanternas para a máquina durante a noite, entre muitas outras coisas. De resto, rastejar na lama, fazer quilómetros em areia a pé, esperar horas por um animal até torna o resto do dia agradável!

Qual é, na sua opinião, a importância da fotografia de natureza no panorama geral da ciência?

A fotografia de natureza possui hoje em dia um papel fulcral na divulgação científica, na divulgação e conservação das várias espécies e na sensibilização ambiental. Uma imagem forte pode fazer muito por uma espécie animal ou vegetal. A relação biólogo/cientista/fotógrafo é que tem de ser cada vez mais estreita.

Tem um projeto chamado “Gigantes da Floresta”. Pode falar-nos um pouco mais sobre ele?

O projeto dos “Gigantes da Floresta” é o reflexo da minha paixão por árvores. Sempre as admirei. Vivo num concelho que possui o maior número de árvores monumentais em ambiente natural. Fico triste quando vejo que algumas árvores no nosso país são violentadas e cortadas sem que alguém faça alguma coisa. Este projeto tem por objetivo dar a conhecer grande parte dessas árvores que se encontram em ambiente natural, ao público. É preciso conhecer para preservar. O “Gigantes da Floresta” abrange todo o território nacional, incluindo as regiões autónomas da Madeira e Açores. Em Portugal continental, o registo fotográfico está a 80 por cento. Devido a fatores económicos, logísticos, e por dependência das estações do ano, será um projeto que vai demorar mais de um ano e meio a estar concluído. Alguns dos locais serão visitados mais do que uma vez. Brevemente daremos início à visualização de algumas exposições de interior e exterior em várias cidades e espero reunir os apoios necessários para a execução de um livro com todas as imagens captadas.

Quais são as zonas do país que considera mais fascinantes de fotografar?

Num país fantástico como o nosso torna-se difícil eleger uma zona em particular, mas realço a Costa Alentejana, o Alentejo, os vários parques naturais que possuímos, o Parque Nacional Peneda-Gerês e as ilhas.

Quais são os seus projetos para o futuro?

Quero fazer algo sobre a fauna e flora do meu concelho e publicar um livro sobre isso.