“Estamos todos muito tristes. Por muito que nos custe, talvez tenha sido melhor assim, porque o sofrimento dele acabou”. As palavras são de Mário Sousa, professor catedrático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). No fundo, são as palavras de todos. Quando se gosta de alguém, não se quer ver essa pessoa partir, nem a sofrer. E a verdade é que toda a gente gostava de Nuno Grande.

O fundador do ICBAS morreu esta segunda-feira, aos 80 anos, devido a complicações cardiovasculares e neurológicas. Com ele, morreu um pouco dos que com ele lidaram. Os que não o conheceram, não sentem tanto a perda. “Comecei de manhã a dar uma aula prática e disse logo aos alunos que ia ser uma aula rápida, porque queria estar na capela. Eles não compreenderam muito bem esta minha necessidade. São muito novinhos… Eu vivi o início da escola com o professor Nuno Grande. Era uma pessoa extraordinária”, diz Mário Sousa.

Nascido em Vila Real, em 1932, foi no Porto que Nuno Grande seguiu a sua vocação profissional. Formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP),com 19 valores. Em 1965, doutorou-se com a mesma classificação. São feitos que deixariam o reitor de qualquer universidade orgulhoso. José Marques dos Santos, reitor da UP, concorda: “Não podemos ver isto (a morte de Nuno Grande) pelo sentido do empobrecimento, mas sim do enriquecimento. O professor Nuno Grande deixou um grande currículo científico e humano, e é o seu exemplo que nos permite dizer: ‘É possível fazer isto!'”.

Uma personalidade insubstituível

António Sousa Pereira, atual diretor do ICBAS, contou ao JPN que não guarda nenhum episódio, em especial, que tenha passado com Nuno Grande, porque “todo ele era marcante”. Mas para Sobrinho Simões, professor e diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da UP (IPATIMUP), aquela Feira do Livro, no Porto, em que esteve com Grande, vai ficar marcada para sempre.

“Ao contrário do que se diz, de que as pessoas são todas substituíveis, isso é uma estupidez! As pessoas não são substituíveis. Podem é arranjar outras pessoas muito boas”, afirma Sobrinho Simões. Mas, para Artur Águas, professor catedrático no ICBAS e antigo estagiário de Nuno Grande, não havia ninguém melhor do que ele a dar aulas. E explica porquê. Mário Sousa, seu par, está de acordo: “Eu adorava as aulas dele. Deu-nos sempre a educação de que devemos ser médicos, homens de família e bons seres-humanos”.

Desde a educação e da ciência, passando pela política – onde desempenhou alguns papéis de destaque -, até à vida, Nuno Grande sempre fez jus ao nome que carregava. “Ele contava, com piada, que uma vez tinham vindo à procura dele, mas perguntavam pelo professor Nuno ‘Largo’. Era um espanhol que estava à procura dele e que estava convencido de que “Grande” não podia ser o nome do professor… Pensava que só podia ser uma alcunha e, portanto, perguntava pelo Nuno ‘Largo'”, revela, entre risos, António Sousa Pereira.

O funeral de Nuno Grande teve lugar esta quarta-feira, às 11h, da Igreja do Foco, no Porto, para o cemitério de Matosinhos.

Notícia atualizada às 16h49 do dia 10 de outubro de 2012