Vítor Gaspar, ministro das Finanças, diz não ter “margem de manobra” e, de facto, quem vai ter de saber manobrar o orçamento serão os jovens portugueses. Quem trabalha a recibos verdes – segundo o Económico, mais de 77 mil portugueses trabalhavam com recibos verdes no final de 2010 – vai pagar muito mais na hora de fazer as contas ao IRS. Se antes 30% do rendimento era encarado como despesa, este ano esse valor desce para os 20% – agora, 80% do rendimento paga IRS. Ou seja, um trabalhador que tenha rendimento anual bruto de 7.200 euros (que deverá ganhar por volta de 600 euros por mês) pagará 621 euros no IRS de 2013 – quase mais 300 euros do que no IRS do ano passado.

Um jovem solteiro sem dependentes que receba 10 mil euros de rendimento anual bruto não pagava nada em 2012. Este ano, passa a pagar 76 euros. Já se o rendimento anual bruto for de 20.000 euros (correspondente a um ordenado que ronda os 1500 euros), o IRS de 2013 exige o pagamento de 3.144 euros – mais 1.145 euros que no ano passado. E não adianta trabalhar mais: o pagamento dos feriados (pelo menos no setor público) vai passar de 50 para 25% e o pagamento das horas extraordinárias num dia normal também desce para metade. Mas quem está desempregado também vai ser afetado – o subsídio de desemprego sofre um corte de 6%.

Desempregado, empregado, estudante dependente… – todos contribuem.

Para os estudantes, a situação não é melhor. Para além dos apertados regulamentos e demoras na atribuição de bolsas ou o fim dos descontos nos passes mensais, o financiamento de projetos vai diminuir cerca de 16%. A investigação científica também vai sofrer cortes – são menos 20 milhões de euros quando comparado com o orçamento do ano passado. Sendo estudante, é provável que dependa da família – e aí, todas as outras medidas que não referimos acabam por afetá-lo também.

Para além de terem perdido o desconto nos passes, os jovens que utilizem os transportes regularmente podem ir encontrando alternativas, já que as greves deverão continuar: o Governo quer apostar numa redução de 20% do número de trabalhadores das empresas públicas de transportes. Mas o carro também não é opção: gasóleo e gasolina vão aumentar já no início do próximo ano.

O tabaco de enrolar também já não é solução para os jovens fumadores: logo agora que se deu um aumento do consumo, o imposto subiu de 15% para 25%. “Uma onça de 20g ou 40g vai custar o mesmo que um maço de cigarros”, garante João Belo, presidente da Associação Nacional dos Grossistas de Tabaco. Mas para jovens desportistas com hábitos mais saudáveis, também não há grande futuro: estima-se um corte de 50% na despesa com o desporto.

Pensar sempre positivo

Com os portugueses em crise e o orçamento a apertar as bolsas, as férias são, cada vez mais, passadas “cá dentro”. Para o ano podem realmente valer a pena: o Governo vai transferir 20,8 milhões de euros de receitas do IVA para as entidades regionais de turismo. Por fim, continua a existir o Euromilhões – mesmo com os prémios acima de cinco mil euros taxados a 20%, continua a sobrar uma boa quantia.