A greve de quatro dias na Agência Lusa começava hoje: às 10 da manhã, a adesão era de 100%, entre jornalistas e administrativos. No Porto, os trabalhadores concentraram-se à entrada da delegação com o presidente do Sindicato de Jornalistas, Alfredo Maia. Os funcionários insurgem-se contra o corte de 30,9% no orçamento para 2013 que já provocou um processo de rescisões amigáveis – que começou ontem e se estenderá até outubro -, por parte da administração da Lusa.

A Comissão de Trabalhadores diz, no entanto, que as medidas não se ficarão por aqui e teme mesmo um despedimento coletivo. Alerta ainda para a as “graves implicações na do serviço de informação prestado pela agência há 25 anos, o que comprometerá a coesão nacional e a democracia”.

A Lusa é a única agência de notícias portuguesa e é um forte suporte aos restantes orgãos de comunicação social, com uma difusão de 12 mil notícias, três mil fotografias, mil sons e cerca de 850 vídeos, mensalmente. A greve prolonga-se até domingo e até lá, os trabalhadores da Lusa continuam com um programa de vigílias e concentrações.

Jornal Público em greve durante o dia de amanhã

Amanhã, o jornal Público une-se ao protesto. Os jornalistas fazem greve contra o despedimento de 48 trabalhadores, uma medida que também faz parte do plano de reestruturação que pretende cortar 3,5 milhões do orçamento do jornal. Dizem ainda que a intenção da empresa compromete” seriamente” o desempenho do orgão, “tanto na edição impressa como nas suas versões electrónicas, com previsíveis efeitos negativos no seu futuro”.

Petições e Carta Aberta pela “qualidade do jornalismo”

Para além das greves anunciadas, foram criadas duas petições em defesa do jornalismo e do serviço público. A petição “Em defesa da agência de notícias Lusa” já reuniu quase três mil assinaturas. A outra, “Em defesa da manutenção da qualidade do jornal PÚBLICO e dos profissionais que fazem dele um jornal de referência nacional” vai nas duas mil assinaturas e vai ser entregue, amanhã, nas instalações da SONAE, no Porto.

Ontem foi ainda divulgada uma carta aberta [PDF] por um grupo de jornalistas, entre os quais Adelino Gomes e Diana Andringa. “Pelo Jornalismo, Pela Democracia” alerta para a crise que afeta o setor e que abala a maioria dos orgãos de informação em Portugal. “Pode parecer aos mais desprevenidos uma mera questão laboral ou mesmo empresarial. Trata-se, contudo, de um problema mais largo e mais profundo, e que, ao afectar um sector estratégico, se reflecte de forma negativa e preocupante na organização da sociedade democrática”, pode ler-se.

Subscrita por mais de 70 jornalistas de vários orgãos de comunicação, sublinha ainda que “o jornalismo não é apenas mais um serviço entre os muitos que o mercado nos oferece”, “é um serviço que está no coração da democracia”. Assim, “num tempo de aguda crise nacional, torna-se mais imperiosa ainda a função da imprensa”.