No último ano do curso de Design de Comunicação da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), João Drumond, madeirense de 21 anos, tinha a possibilidade de fazer um estágio ou um projeto final. Escolheu o projeto. Foi assim que nasceu “Drawn to Places“.

“Costumo descrevê-lo como uma revista online, de periodicidade limitada. É uma espécie de roteiro alternativo do Porto, um mapa que vai sendo construído pelos olhos dos autores que entrevistamos”, explica Drumond ao JPN.

No fundo, “Drawn to Places” quer saber que locais da cidade influenciam os “image makers” – aquelas pessoas que têm a imagem como base dos seus trabalhos – nas suas criações. O processo é simples: assim que João define o entrevistado, este indica o sítio do Porto que mais o influencia, e a entrevista (sempre em texto e, quando possível, também em vídeo) é feita nesse lugar.

Até ao momento, existem três lugares assinalados no mapa: o Lago dos Salgueiros, os Jardins de Nova Sintra e a Estação de São Bento. Estes lugares foram escolhidos, respetivamente, por Zé Cardoso – ilustrador e co-fundador do coletivo Salão Cóboi -, Pandora Complexa (que é o mesmo que dizer Rui Vitorino e Júlio Dolbeth, ambos ilustradores e professores da FBAUP) e Marta Monteiro, outra ilustradora.

Equipa “Drawn to Places”

João Drumond,
edição, fotografia e direção de arte;
Ana Manuel e Paulo Catumba,
realização de vídeo e produção de audio;
Lúcia Ribeiro Sousa,
tradução.

Zombies que brilham no escuro

Todos estes autores têm a contar coisas diferentes sobre os espaços que escolheram. Mas aquele que salta mais à vista é o Lago dos Salgueiros. Não só pela sua localização – entre o Jardim de Arca D’Água e a Via de Cintura Interna (VCI) -, mas também pela ideia que Zé Cardoso tem do lugar, uma zona que, no passado, “poderia estar amaldiçoada ou ter um laboratório secreto subterrâneo”, ou ser habitada “por uma família de zombies que brilham no escuro”.

“Isso é mais o imaginário do Zé… Mas esse é o objetivo, tentar perceber o imaginário de cada pessoa. A Marta [Monteiro], por exemplo, é mais reservada e escolheu a Estação de São Bento. A verdade é que os sítios públicos, às vezes, podem ter algo de muito pessoal”, diz João Drumond.

Mapa-múndi?

“Drawn to Places” começou no Porto, mas…e os artistas que tiverem inspirações por outras paragens? “Começou no Porto, porque estou a viver cá há quatro anos. Quando saí da Madeira, foi a cidade que me acolheu. Por isso, gostava de esgotar o projeto aqui. Depois sim, há a hipótese de cobrir outro sítio em Portugal, ou lá fora, porque o site é uma coisa que pode ir comigo para qualquer lado”, afirma João.

Para já, existe a certeza de que a próxima entrevista vai continuar pelo Porto e que vai ser publicada dia 27 (o projeto arrancou, no site, a 27 de Julho e, desde então, as restantes entrevistas têm sido publicadas um mês depois). Quanto ao próximo entrevistado, João Drumond não se descai: “A única coisa que posso dizer é que não vai ser da mesma área que os outros artistas. É mais novo, mas também com um trabalho de qualidade”. E o local? “O cenário vai ser um espaço público, mas ligeiramente fora da cidade”.