Beka Iglesias tem 30 anos, duas licenciaturas, uma pós-graduação e uma data de formações. Geek assumida, redes, programação, audiovisual e outros conceitos fazem parte do seu dia-a-dia.

A Guifi.net é a primeira operadora livre espanhola, um projeto de rede livre, aberta e neutra que permite a partilha de conteúdos e recursos, paralelamente à internet. A ideia nasceu na Catalunha e Beka levou-a até à Galiza, de onde é natural. Entretanto, veio viver para o Porto e trouxe a ideia com ela – mas não se ficou por aqui: a Guifi já está em vários pontos da Península Ibérica. São cerca de 32 mil quilómetros de ligações sem fios – a maior comunidade do mundo.

Como surgiu esta ideia, de lançar a guifi.net?

Surgiu no seio de um grupo de pessoas dos hacklabs de Barcelona, que acharam interessante investigar a equivalência do trabalho que habitualmente faziam com a instalação e desenvolvimento de software livre, mas aplicado à tecnologia de redes. As primeiras tentativas foram feitas com a embalagem das batatas fritas Pringles…e funcionava! (risos) A partir de 2004 já começaram a montar-se as primeiras antenas.

Quais foram os obstáculos, no início do projeto?

As dificuldades iniciais de todos os projetos: muito trabalho a fazer para estandardizar o modelo (criar o site, selecionar o melhor hardware qualidade/preço, os pormenores legais…) e para divulgar o projeto, que incrementa as suas potencialidades quando a rede cresce.

Entretanto criaram a “Fundación privada para la red abierta, libre y neutral guifi.net”, onde permitem troca de sugestões e dúvidas com os utilizadores. Qual tem sido a dúvida mais frequente?

A pergunta mais frequente é: com a guifi.net tenho internet grátis? Resposta: não. Podes partilhar internet com vizinhos ou com pessoas a quilómetros de distância, com as antenas de cobertura a clientes e a conexão fica mais barata. O mais interessante desta rede é que, havendo diversas antenas, podes fazer rádio, videoconferências internas, telefonia IP. Podes utilizar a rede para fazer coisas para as quais até agora precisavas sempre de internet. Por exemplo: e-learning entre escolas utilizando guifi.net – sem usar internet, com o aumento da privacidade e segurança que isso implica. A segunda é: mas o guifi.net é legal? Sim, completamente legal e licenciada com uma Wireless-Commons.

Como pensa que as grandes operadoras de telecomunicações vão “responder” a este projeto?

Em Espanha, a guifi.net é, desde 2009, uma operadora de telecomunicações [reconhecida pela Comissão de Mercado das Telecomunicações Espanhol desde 2009]. As grandes operadoras não estão muito contentes, mas é tudo legal. A utilização do espaço radioelétrico acessível pelo decreto-lei correspondente, a licença wireless-commons…tudo em ordem. Agora temos de começar esse processo em Portugal.

Como tem sido o impacto junto do público?

Só em Espanha a guifi-net tem 23.600 nós, mais o Prémio Nacional de Telecomunicações da “Generalitat de Catalunya” e o interesse contínuo em novas apresentações mostram que é um projeto com sucesso.
Em Portugal, desde que chegámos que vimos muito interesse, tanto em redes de software livre como da Universidade de Porto e de diferentes associações da cidade, como a Porto Digital ou o Maus Hábitos. Agora é continuar a trabalhar porque o começo da expansão da rede é sempre mais devagar, mas seria desejável deixar uma comunidade formada para a montagem da estrutura [em julho, Beka deixa o Porto].

A guifi.net pode ser utilizada tanto nas grandes cidades como nos espaços rurais, onde nem sempre há rede de internet. Como conseguiram colocar fibras óticas nestas localidades e ter uma internet suficientemente autónoma para conseguir fazer comunicações?

Depende de cada caso e da negociação com os agentes correspondentes em cada localidade. Tanto a fibra ótica como a conexão ao ponto neutro em Catalunha têm sido dois grandes casos de sucesso.

Que mensagem deixa aos jovens e às pessoas que querem investir em projetos que ainda não foram criados?

Diria que a atitude de comunidade e de hacking, ou seja, os modelos colaborativos e transparentes são a única esperança para construir um sistema mais justo e com maior otimização de recursos, onde as ideias evoluem e inovam de forma mais rápida porque circulam e podem ser melhoradas por mais cabeças. Recomendações: criatividade, paixão pelos desafios em comunidade e o modelo do software livre.

Por fim, o que tem de se fazer para aderir à guifi.net?

Para aderir à rede é só preciso comprar o hardware (que durante este ano pode ser instalado gratuitamente).

Notícia atualizada às 11h15 do dia 24 de novembro