Depois dos resultados europeus, que dizem que os jovens estão cada vez mais tolerantes com o casamento homossexual e a homoparentalidade – em que Portugal se destacou pelos valores elevados -, um estudo levado a cabo pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) mostra que pode não ser bem assim.

O estudo “Homoparentalidades num contexto heteronormativo”, garante que o preconceito relativamente à homoparentalidade ainda existe. Os estudantes do ensino superior acreditam que o “desenvolvimento sexual da criança pode ficar em risco”, principalmente se for um rapaz “educado por duas mães”. Os inquiridos acreditam que o rapaz pode “apresentar mais dificuldades na aquisição de comportamentos tradicionalmente masculinos”, explica Jorge Gato, investigador, à Lusa.

Estudantes Inquiridos

Para a elaboração deste estudo foram inquiridos 1.288 finalistas de 12 instituições de ensino superior do país e de nove licenciaturas de quatro áreas: Psicossocial (Psicologia, Serviço Social, Educação Social e Sociologia), Saúde (Medicina e Enfermagem), Educação (Ensino Básico e Educação de Infância) e Jurídica (Direito), numa tentativas de abranger dois tipos de cursos – uns de carácter mais tecnológico, outros vocacionados para a intervenção social.

Esta preocupação é denotada principalmente entre o sexo masculino: “os homens têm atitudes mais negativas em relação aos homossexuais, por considerarem que a identidade heterossexual está indissociavelmente ligada à sua identidade enquanto homens”, explicou. Por outro lado, os universitários com cursos ligados à intervenção social acreditam que os casais homossexuais podem mesmo ser “mais competentes”, em algumas situações, do que os heterossexuais. Consideram que “as crianças têm menos probabilidade de ser abusadas sexualmente nas famílias de lésbicas e gays mas, por outro lado, acham que estas famílias têm menor capacidade de transmitir valores às crianças”.

Numa situação hipotética os estudantes finalistas atribuíram, com maior probabilidade, a custódia de uma criança a uma família heteroparental. Ainda assim, Jorge Gato garante que “a homoparentalidade em si não é problemática, nem do lado dos pais, nem do lado das crianças, mas não me parece que esta informação esteja a ser suficientemente transmitida” nas faculdades.

Falta de formação pode ser uma das razões da falta de tolerância

O estudo revela ainda que mais de metade (54%) destes “futuros profissionais das áreas da Saúde, Educação, Direito e Psicossocial não tiveram contacto com qualquer informação científica sobre homossexualidade e homoparentalidade” durante a frequência universitária. Em relação aos estudantes de Educação Básica, o número inflaciona para os 80%. Um dos alertas desta investigação é dirigido, portanto, para a importância da formação e consciencialização dos alunos em relação a estes assuntos, já que o seu trabalho não deve ser comprometido por qualquer orientação sexual. “Sabemos que a informação só por si não muda as atitudes, mas é responsabilidade dos cursos dar formação cientificamente validada a estas pessoas”, defende Jorge Gato.