Filipe Azevedo, 19 anos, está a estudar há cerca de um ano em Girona, Espanha, já que “as médias para entrar em Medicina são tão exageradamente altas” em Portugal. “Era capaz de me imaginar a fazer o curso aqui e então decidi ficar por cá”, explica.

Cláudia Coelho tem 23 anos e está há três na Universitat Autònoma de Barcelona (UAB), também em Medicina. A razão é a mesma de Filipe, mas diz que não se arrepende: “[o curso] é mais exigente e tem ótimas condições”. Na realidade, a jovem teria ficado em Portugal se tivesse conseguido entrar no curso que queria. “Se já soubesse o que sei hoje, voltaria a emigrar porque, apesar de todas as dificuldades e inconvenientes no que diz respeito ao âmbito profissional, estou no sítio certo”, garante.

“A Escolha”

Foi precisamente sobre esta temática a curta-metragem que, esta semana, arrecadou três prémios no Festival Internacional “Ver e Fazer Filmes”, em Guimarães. “A Escolha” tem 20 minutos e fala da escolha de Maria: entre ficar ou emigrar. O filme é de um grupo de jovens do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho.

Já Maria Neves, de 18 anos é estudante de Arte e Design no London College of Communication (LCC). Preferiu a qualidade do ensino inglês: “a estrutura do curso é muito direcionada para a pesquisa individual”, com “vários dias por semana de «self-directed study», em que não temos que marcar presença e que servem para trabalharmos sozinhos nos projetos que temos em desenvolvimento”. Além disso, “na minha área há muito mais oportunidades cá do que em Portugal”, frisou. Apesar de estar apenas há dois meses em Londres, está certa de que é “uma cidade mundial, que abre a mentalidade de toda a gente. É completamente o oposto do que vivia em Portugal”.

Motivos diferentes, mas as mesmas expectativas

Apesar dos motivos diferentes que os levaram a deixar Portugal, as expectativas são as mesmas. “Não digo que não vá voltar, mas por agora não considero que essa seja a opção mais provável”, conta Maria, que gostava de tentar a sua sorte noutros países europeus ou até nos Estados Unidos. Também Cláudia só tenciona voltar a Portugal a longo prazo. “Quero acabar o curso aqui e, talvez, fazer a especialidade noutro país. Depois sim, voltarei a Portugal”. Filipe pensa que “Portugal neste momento não é um grande atrativo a nível profissional”, mas também admite que “até acabar o curso muita coisa pode mudar”.

Mas estar no estrangeiro pode ser um grande desafio. Cláudia Coelho falou de todas as dificuldades que senti: “integração a nível social, conciliar vida de estudante com o cuidar da casa, a distância da família e amigos” foram algumas delas. A nível económico, também não foi fácil: “o nível de vida aqui é mais caro e os preços das propinas têm vindo a subir”. A adaptação a uma nova língua também acabou por ser uma dificuldade comum a todos.

Só nos primeiros seis meses deste ano, já 44 mil jovens, entre os 25 aos 34 anos, deixaram Portugal. Nestes três casos, a tendência verificou-se mais cedo, mas a idade não foi um impedimento. Maria não tem dúvidas e defende que “estudar no estrangeiro é uma oportunidade demasiado boa para não ser aproveitada”.