Como surgiu o interesse pela fotografia da natureza?

Antes de iniciar o meu percurso fotográfico, a minha grande paixão e fascínio era o mundo das aves. Mais tarde comecei também a interessar-me por outras áreas, como os anfíbios, répteis e mamíferos. Mas foi, sem dúvida, alguns dos documentários sobre a vida animal, que me despertaram ainda mais o interesse pela natureza. Foi o grande motivo para desencadear o meu interesse pela fotografia de vida selvagem. Iniciei, posteriormente, uma longa caminhada de aprendizagem na área da fotografia, ainda na era da película. Essa aprendizagem era bem mais lenta, pois só passados alguns dias se via o resultado final com a revelação.

Qual foi até agora o trabalho fotográfico que mais gosto lhe deu fazer? Qual o animal, por exemplo, que mais gostou de fotografar?

Já realizei diversos trabalhos que foram, sinceramente, de muita satisfação. Tenho diversas espécies sobre as quais adoro trabalhar. Por exemplo, o melro-d’água sempre foi uma das espécies de aves que mais me fascinou, quer pela sua beleza, quer pelo seu comportamento. A aguia-de-bonelli é uma das grandes aves de rapina que me fascinam, quer pela sua elegância quer pela sua magnífica agilidade. O britango ou abutre do Egito é outra ave que aprecio. Contemplar a sua silhueta é uma visão única.

Há algum local do país que ache mais interessante fotografar?

O nosso país, ao contrário do que muita gente pensa, tem regiões maravilhosas, únicas, e, no meu caso pessoal, em muitas delas, quando penso que já as conheço bem, sou surpreendido por novos locais, cheios de bons motivos fotográficos. Um local que me fascina em particular é, sem dúvida, os cursos fluviais de montanha, e na minha região, a serra do Caramulo, no concelho de Vouzela, felizmente ainda “correm” livres e bem preservados. Outras regiões de que não me canso de explorar é o Parque Natural do Douro Internacional e o vale do Côa, mais concretamente no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Esta região tem paisagens, rios e uma fauna diversificada, como as grandes rapinas. Toda esta multiplicidade é motivo suficiente para ter um gozo enorme no meu trabalho.

Qual foi até agora o ponto alto no seu percurso como fotógrafo da natureza?

Poderia falar em dois pontos cruciais na minha atividade profissional. Um, como é óbvio, é a publicação de um livro, sobre um projeto pessoal, que pode demorar anos a concluir e é sempre um grande objetivo de um fotógrafo. O outro, e talvez o mais importante, foi tornar-me fotógrafo profissional de natureza e vida selvagem, já que era um sonho que se tornava realidade. Não digo que seja o ponto alto da minha atividade, mas foi certamente marcante. O que considero fundamental é passar uma mensagem para a opinião pública, através das imagens, e com isso, sensibilizar e alertar para a importância da conservação da natureza.

“É necessário ter paciência e paixão por esta profissão”

Que cuidados tem de ter um fotógrafo de natureza quando vai para o terreno? Que desafios enfrenta?

Depende sempre dos nossos objetivos. Por norma, elaboro sempre um plano de atividades consoante os meus projetos fotográficos ao longo de um ano. Temos vários fatores que podem ser essenciais no resultado final. Uma pesquisa detalhada do relevo do terreno, as condições meteorológicas e depois o trabalho de investigação no campo, com recurso a binóculos. Talvez esta última seja a parte em que podemos encontrar sérias dificuldades, porque, por exemplo, fotografar uma espécie de ave, requer tempo e observação antes de efetuar o trabalho fotográfico. Passar horas dentro de abrigos, por vezes dias, para ter o resultado que se pretende. É necessário ter paciência e paixão por esta profissão. A colaboração de investigadores, biólogos, e amigos fotógrafos é outro elemento importante e fundamental. Muitas vezes, para realizar uma reportagem sobre uma determinada espécie, é necessária uma autorização, que demora tempo e cria alguns problemas. É bem mais fácil tirar uma licença de caça. É curioso, mas é a verdade.

Que conselhos dá a quem quer ser fotógrafo da natureza?

Hoje em dia, e com o acesso ao digital, a evolução pode ser mais rápida. Na minha opinião, é necessário ter paixão pela natureza. Ter a capacidade de ser um bom autocrítico e ser criativo são normas essenciais. Atualmente qualquer pessoa faz registos fotográficos, mas apenas alguns conseguem passar uma mensagem atrativa. Ver trabalhos de fotógrafos conceituados em sites, livros e revistas de qualidade são motivos que provocam inspiração e uma cultura fotográfica positiva.

Na sua opinião, qual a grande missão de um fotógrafo de natureza?

Uma imagem pode ter um grande impacto, quer na opinião pública, quer até nos decisores políticos. O trabalho de um fotógrafo serve essencialmente para alertar e divulgar os valores naturais do seu país. Serve também para mostrar os mistérios da natureza, que muitas vezes não são conhecidos do grande público. Dou um exemplo: a grande maioria das pessoas desconhece que em Portugal existem abutres, pois associam estas aves necrófagas ao continente africano. Este facto acontece também porque os documentários que passam na televisão divulgam com mais regularidade a fauna de outros locais do planeta e é raro observar um documentário sobre a nossa fauna na televisão.

Quais os seus projetos para o futuro?

Projetos e ideias, não me faltam, mas a fotografia de natureza não é algo que se pode afirmar que se conclui amanhã. Pode demorar anos, e depois a falta de apoios é outra dificuldade. Ando há alguns anos a trabalhar no Douro Internacional, onde o objetivo é editar um livro denominado “Douro Selvagem”, mas é uma região imensa e requer tempo. Neste momento, preocupo-me com o presente e no que estou a trabalhar, só depois oriento as minhas ideias noutros projetos.