Conta a lenda que, num dia frio e chuvoso, Martinho, um soldado romano que regressava a casa, encontrou um mendigo que lhe pediu esmola e tinha muito frio. O soldado cortou a sua capa em duas com a espada e ofereceu metade ao mendigo. De repente, o frio e a chuva pararam e o tempo aqueceu. Acredita-se que isto foi uma recompensa para o soldado pela sua bondade. A superstição é que todos os anos, no mesmo dia, o sol aparece e o tempo melhora. A história conta-se assim e passa de geração em geração.

Para acompanhar a história, o “lume, as castanhas e o vinho” são indispensáveis. Mas há quem não espere pelo S. Martinho para comer a pequena iguaria e comece a corrida aos cartuchos desde o início do frio. No Porto, são muitos os lugares onde é possível comprar castanhas assadas: desde a Rua de Santa Catarina a São Bento, no Bolhão, na Boavista ou já na Foz. É uma tradição antiga na cidade, da qual os portuenses não abdicam – e os turistas, também não.

A crise não chega, portanto, às castanhas. Este ano, ainda por cima, “as castanhas são de boa qualidade”, garante Maria do Céu Carneiro, vendedora na rua de Santa Catarina. Mas quer se queira quer não, há quem não goste e até ache caro dar dois euros pela dúzia. Ainda assim, Maria garante que “há cinco anos” que o preço se mantém.

Cartuchos de papel de jornal são os preferidos

Mas se há uns anos o cartucho era inevitavelmente de papel de jornal – ou no máximo, de listas telefónicas – nos dias de hoje já existem sacos de papel personalizados pelos vendedores. Augusto, também vendedor em Santa Catarina, tem “as duas versões, mas já aconteceu pôr as castanhas no saco e as pessoas pedirem para pôr em folha de jornal porque senão as castanhas não lhes sabem bem”, conta. O vendedor confessa, no entanto, que prefere utilizar o papel das páginas amarelas – sempre que o há.

No dia, se há quem goste de ficar à lareira, também há quem prefira o bailarico. Um pouco por toda a cidade, são muitas as festas com magusto à mistura. Durante o dia de sábado, o Guindalense Futebol Clube (GFC) oferece música ao vivo, castanhas assadas e vinho – com entrada gratuita. À noite, a festa faz-se no Contagiarte e na Casa do Infante, a partir das 20h00 e das 21h30, respetivamente. Já no domingo, é o Zoo de Santo Inácio, em Gaia que oferece as castanhas. Para quem gosta de animais, é mais um desculpa para espreitar os habitats.