Porto: Alimentação não anda sobre rodas na universidade

Os maus hábitos alimentares fazem parte da vida dos universitários do Porto. A vida agitada, o stress e as novas rotinas de quem deixou a casa dos pais explicam refeições fora de horas e más opções.

Para Bárbara Pereira, nutricionista, as cantinas “oferecem uma refeição completa” e são hoje uma boa opção para as carteiras dos estudantes. Wilson Silva, aluno da Faculdade de Engenharia (FEUP), concorda: “É o local de almoço mais barato”. No entanto, Juliana Sousa, estudante da Escola Superior de Educação (ESE), acrescenta que “na cantina há de tudo: comida saudável e menos saudável. Cabe a cada um escolher o que quer comer”.

Mas se há quem considere a cantina uma opção barata e saudável, para Gonçalo Castro, aluno do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), os preços são muito altos: “A cantina da minha faculdade, por agora, ainda é cara. Não existem cartões de estudante e não fizeram preços académicos”. A alternativa é ir ao centro comercial e optar por uma refeição ligeira.

Cantina, bares ou microondas?

Há ainda quem esteja a sair da filas das cantinas para ir para as filas dos bares das faculdades. E depois também existe a “opção microondas”, onde se aquece o que se traz de casa. Tânia Santos, aluna da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP), diz que quando não pode ir a casa tenta levar algo para comer: “Uma sandes e fruta. Assim fica mais económico”.

Os tupperwares nas malas já são moda e fazem lembrar as lancheiras do ensino primário.
Daniela Ferreira, estudante da Escola Superior de Tecnologias da Saúde (ESTSP), segue a tendência. O almoço é cozinhado na véspera para “poupar dinheiro para a carta de condução”, conta.

Em tempo de crise, o que os jovens poupam na alimentação tem vários destinos. Diminuir os encargos sobre os pais é a maior preocupação, tendo em conta a elevada “renda” que frequentar o ensino superior representa . O “pé de meia” ressurge para gerir as despesas do dia-a-dia, os materiais académicos, hobbies, vestuário e saídas com os amigos.

Muitas vezes, até as festas académicas são uma prioridade e, por causa disso, a alimentação fica para segundo plano. “Com certeza que todos os jovens já fizeram isso, pelo menos, uma vez”, admite André Cosme, aluno do Instituto Superior de Contabilidade e Administração (ISCAP). No entanto, nem todos concordam. Ana Blimundo, estudante da Faculdade de Letras (FLUP), poupa mais nas festas: “Se as festas tiverem um preço baixo e bebidas de oferta, limito-me a frequentar essas, sem gastar dinheiro extra”.

Com os bolsos mais cheios, as escolhas seriam diferentes?

Para Emanuel Alves, estudante da Faculdade de Desporto (FADEUP), mais uns “trocos” no bolso, fariam a diferença: “Com mais dinheiro, poderia comer de forma mais saudável, fora da cantina, mas por preços a rondar os 6 euros, por refeição completa”. André Moreira, aluno de Medicina Dentária (FMDUP), confirma e até brinca com a situação: “Arranjava uma empregada que soubesse cozinhar bem e fizesse pratos pouco calóricos, mas ao mesmo tempo saborosos”.

A nutricionista Bárbara Pereira assegura que “o fator ‘gostar’ acaba por ser um dos maiores determinantes de consumo”. Mas nem sempre há tempo para comer o que mais se gosta. A solução está nos enlatados, como o atum e as salsichas, na massa e no arroz, ingredientes indispensáveis nos armários “lá de casa”. “Lasanhas ou pizzas também são opção quando a vontade de cozinhar é pouca”, diz Diogo Azeredo, estudante da FLUP. Os alimentos fritos são os que reúnem mais adeptos entre os que procuram uma refeição mais rápida e saborosa.

Menos tempo, menos dinheiro e mais stress fazem com que a roda dos alimentos esteja menos presente nos pratos dos estudantes universitários do Porto. Apesar de se esforçarem, “comer bem” é uma tarefa cada vez mais difícil.