Um rapaz encontra uma máquina fotográfica, perdida. Interessa-se sobre os vídeos que estão no cartão de memória da máquina e descobre, depois, que a rapariga dos vídeos desapareceu. Decide ir à procura dela num “jogo de mistério”, descreve André Vieira, realizador de “A Rapariga da Máquina de Filmar” e ex-colaborador da Academia RTP.

Esta é uma das sinopses possíveis que o jovem de 24 anos dá ao P3: não gosta muito de descrever a sua primeira longa-metragem porque acha “interessante deixar a dúvida do que se está a passar”. É que este é um “falso documentário”, diz.

Talvez por isso o rapaz que encontrou a máquina de Elena se chame André e seja, a par do realizador do filme, documentarista freelancer. “Elena, uma jovem estudante, de rara beleza e curiosa personalidade, tem como hábito fazer-se acompanhar da sua câmara de filmar.” Não era preciso muito mais para que o André do filme desatasse a procurar Elena por todo o lado (Porto, Valongo, Aveiro), tentando falar com as últimas pessoas a estarem com ela antes do desaparecimento na forma de um documentário.

Elena “capta compulsivamente imagens do que a rodeia, das pessoas e de si própria”, o que se reflecte numa máquina de filmar bem recheada. “Começando como uma curiosidade, André assiste aos numerosos vídeos que Elena publica online”, num blogue que o realizador também criou, de forma a entrar na trama, e “depara-se rapidamente com um pequeno fascínio por esta rapariga”.

Lado a lado com Manoel de Oliveira

“Há uma história por detrás de todo o filme: certas situações que a Elena viveu não são filmadas, são apenas feitas para depois podermos ter as reacções das pessoas”, conta André. Assim se explica que as pessoas entrevistadas em “A Rapariga…” tenham, de facto, visto Elena, por exemplo, na noite do Porto. “É um jogo com as pessoas reais”, refere André. “Elas aparecem no filme mas não sabem de nada, só no final da entrevista é que lhes dissemos. Realmente, viram aquela rapariga, não fazem é ideia de que é uma ficção.”

“A Rapariga da Máquina de Filmar”, que inicialmente era para ser uma série e logo se transformou numa longa-metragem, nasceu na Academia RTP, projecto da estação pública de televisão que dá aos seus candidatos uma oportunidade de concretizarem ideias. André Vieira concorreu sozinho, mas a ele juntaram-se-lhe mais sete membros da Academia.

O filme já foi exibido na RTP 1 e no Cineclube de Santa Maria da Feira, onde o jovem licenciado em Tecnologias de Comunicação Multimédia pelo Instituto Superior da Maia vive, e está agora a concurso no festival Caminhos do Cinema Português, em Coimbra. Vai ser exibido no festival a 16 de Novembro, sexta-feira, lado a lado com películas de grandes nomes do cinema nacional, como Manoel de Oliveira.

“É uma oportunidade fixe de mostrar o projecto, de obter mais algum ‘feedback’. Mesmo que não se ganhe nada é sempre muito bom”, remata André Vieira.