Filipa tem 37 anos e Alberto, 41. Namoram há sete anos e partilham a casa há dois, mas ter um filho não faz parte dos planos da vida do casal. “Não posso dizer que não gosto de crianças, simplesmente não imagino uma no nosso universo, nem agora, nem num futuro próximo”, explica Filipa.
Dia Mundial da Criança
Apesar de ser celebrado em Portugal no dia 1 de junho, a ONU reconhece que o Dia Mundial da Criança é a 20 de novembro, uma vez que corresponde à data em que foi aprovada a Declaração dos Direitos da Criança.
Ter uma criança é incompatível com os planos futuros que têm a dois, “como viajar, descobrir o mundo, termos uma liberdade constante”, esclarece. Contudo, Filipa não esconde o seu gosto por crianças: “adoro brincar com os meus sobrinhos!”.
No caso de Alberto, a justificação é outra. Os problemas associados à conjuntura económica é um dos motivos pelos quais decidiu não ter filhos. “Acho que é uma tremenda irresponsabilidade trazer uma criança ao mundo sem pensar antes se temos condições para a fazer crescer num ambiente estável. Hoje em dia há que ter noção que não é só de amor que um bebé precisa”, defende.
Quando as duas vozes se juntam, o casal acredita que “não há nada mais fascinante que o riso de uma criança” mas, ainda assim, “nem toda a gente nasceu para ser pai ou mãe”.
Mas nem sempre a ausência de filhos é uma opção. Cidália, cujo nome verdadeiro não quis revelar, está a tentar engravidar há sete anos. Ela e o marido já experimentaram vários tratamentos e técnicas de fertilização artificial, mas sem sucesso. Mesmo com a comparticipação dos tratamentos (em parte) pelo Estado, o apoio torna-se insuficiente para o jovem casal, mas Cidália admite não desistir do sonho de um dia ser mãe.
No fim-de-semana “seria impossível dormir uma manhã inteira por preguiça”
Para Luísa Gouveia, de 26 anos e Luís Rosa de 33, a situação não se revela tão adversa e constituir família é um dos planos a longo prazo. Por agora não é uma opção, já que “é necessário ter maior estabilidade”. Para além disso, o casal diz não pretender alterar a vida que tem em comum, uma vez que “ter filhos implica uma maior responsabilidade e uma grande alteração de alguns hábitos de vida”. No fim-de-semana, por exemplo, “seria impossível dormir uma manhã inteira por preguiça”.
João Pina (nome fictício), de 29 anos, representa outra realidade. Tem uma grande vontade de ter um filho e quer mesmo adotar uma criança, mas é homossexual. Em Portugal, a adoção ainda não é permitida a casais do mesmo sexo mas nada demove João: “num futuro próximo, tanto em Portugal como em muitos outros países da Europa que até agora se mostram avessos à mudança, a adoção por parte de casais homossexuais será uma realidade”, afirma.
Segundo o jovem, o conceito atual de casal “está cada vez mais ultrapassado” e defende que “um casal tem de se amar, não importa o sexo”. Neste momento quer muito adotar, já que lhe permite “dar um lar e dar amor a alguma criança que precise”, mas se adoção for impossível, João Pina tem outra solução: uma barriga de aluguer.