Pilar del Rio, Mário Cláudio e Pedro Abrunhosa estiveram à conversa com o jornalista e moderador do debate Sérgio Almeida, no sábado, numa homenagem a Saramago, que continua vivo na memória dos portugueses. Um ano depois da primeira edição do “Porto de Encontro”, a homenagem ao Nobel foi, segundo Sérgio Almeida, “especial a vários níveis”.

O jornalista lançou o mote: “Será que um autor só morre quando deixa de ser lido?”. O romancista Mário Cláudio imediatamente defendeu que “Saramago faz parte de um grupo restrito de escritores”. Abrunhosa acrescentou que “as pessoas morrem mas os autores não”. Mesmo depois de morto, “Saramago continua a ser polémico”, disse o músico.

A polémica deu lugar ao desassossego e ao facto do autor nunca querer ter sido consensual. Será nisso que reside a sua grandeza? Pilar não hesitou em afirmar que “Saramago dizia que escrevia para desassossegar”. Para Mário Cláudio, o autor “entrou como um vendaval na literatura portuguesa” e Abrunhosa reafirmou que “a arte é rutura e qualquer autor tem o papel de romper com o que existe”.

Os livros que permanecem e o amor por Portugal

Quando os livros de Saramago se tornaram tema de conversa, Pilar del Rio afirmou prontamente que, no espólio do autor, “As Intermitências da Morte” é o seu livro de eleição. Mário Cláudio, por seu lado, não conseguiu escolher apenas um. Selecionou o “Memorial do Convento”, pela sua envolvência; “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, por ser o mais engenhoso e “O Ensaio Sobre a Cegueira”, pelo seu cariz doloroso. Abrunhosa escolheu o “Memorial do Convento”. Ao ler o livro, “assumi que a passarola voou”, confessou.

O evento

“Porto de Encontro – À Conversa com Escritores” é uma iniciativa promovida pela Porto Editora e moderada pelo jornalista Sérgio Almeida. O evento decorre mensalmente desde novembro de 2011 em locais emblemáticos da cidade do Porto

Após ter recebido o Prémio Nobel da Literatura, em 1998, Saramago manteve-se no ativo. “Não perdia a oportunidade de dizer o que queria e de defender aquilo em que acreditava”, referiu Pilar. Mário Cláudio não perdeu tempo em acrescentar que “o ato de escrever não se esgota na materialidade do papel e da tinta”. Pedro Abrunhosa rematou dizendo que, depois do Nobel, “Saramago reafirmou-se”.

É do conhecimento geral que Saramago era extremamente crítico em relação a Portugal, aos portugueses e ao que por cá se passava. Pilar del Rio garante que “Saramago amava desesperadamente Portugal” e que esse era o motivo para criticar as coisas que o magoavam. Abrunhosa disse ainda que “o que se passa entre Saramago e Portugal é um caso de amor” e que é “a portugalidade que existe em Saramago que o torna universal”.

Música, leituras e performances para relembrar o Nobel

Entre conversas sobre o homem e o escritor, foram interpretados excertos de “Ensaio Sobre a Cegueira”, “As Intermitências da Morte”, “Memorial do Convento” e “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, cuidadosamente selecionados por Pilar del Rio. As ilustrações do artista plástico Agostinho Santos serviram como pano de fundo. O Coral de Letras da Universidade do Porto e o grupo “O Andaime” também subiram ao palco para homenagear o Nobel. O espetáculo terminou com Pedro Abrunhosa ao piano a interpretar o tema “Não Desistas de Mim”.

Saramago foi desassossego, foi não consensual. Saramago foi realidade e imaginação, consciência e Nobel. Saramago foi uma sala cheia e bilhetes esgotados em 15 minutos. A próxima edição do “Porto de Encontro” está agendada para 15 de Dezembro, e todas as informações podem ser consultadas aqui.