Ana Jorge Ferreira, aluna da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) está neste momento de Erasmus na Irlanda. Desde o “reconhecimento académico ao crescimento pessoal” ou “a oportunidade de praticar uma língua diferente” não lhe faltam razões para ingressar no programa de intercâmbio. “Queria provar a mim mesma que conseguia viver sozinha num país completamente novo”, conta Ana. Uma competência essencial na sociedade de mobilidade em que os mais jovens vivem atualmente.

Bolsas de Intercâmbio

A União Europeia (UE), em comunicado, diz que os alunos que partiram ou ainda vão partir no ano letivo 2012/2013 não devem correr o perigo de não receber o dinheiro combinado. “No entanto, poderão surgir problemas durante o período referido”, lê-se. Mesmo assim, o valor atribuído parece não chegar. O que é certo é que a procura ultrapassa largamente a disponibilidade de bolsas Erasmus na maior parte dos países participantes, que já são mais de três dezenas.

Artigo de contextualização

Espera que tudo isto não passe de “um grande susto” e que “ninguém tenha coragem de acabar com o programa”, já que acredita que “as perdas para a UE seriam enormes”. Entre tantas outras competências, o Erasmus também desenvolve “o sentimento de ser europeu”, que nesta altura é fundamental. “A força da UE é agora questionada e muita gente começa a dizer que mais valia deixá-la. Este programa está a formar genuínos europeus… pessoas que sentem que o seu país é a Europa”, explica.

Deixar morrer o programa é “um passo atrás na nossa evolução enquanto cidadãos”

Quanto ao gasto monetário que implica a mudança para outro país, Ana diz que o rombo está a ser muito menor do que estava à espera, já que agora tem direito a bolsa e em Portugal não tinha acesso à Ação Social. É certo que o valor atribuído não cobre nem metade das despesas, mas acredita que “controlando bem os gastos, é exequível”. A bolsa de Ana Jorge, para já, está garantida mas há colegas espanhóis que não tiveram tanta sorte.

Também Ana João foi estudar para Barcelona e ficou numa situação bem diferente: só fizeram a transferência da bolsa meses depois de chegar à cidade e não foi, de todo, suficiente para cobrir as despesas. “Barcelona é uma cidade cara e não foi sequer suficiente para cobrir as despesas de alojamento”. Apesar das dificuldades, Ana João não tem dúvidas: “Não se pode deixar morrer o programa”. O fim do Erasmus representaria “mais um passo atrás na nossa evolução enquanto cidadãos”, afirma.

Nem todos confiam no parecer positivo da União Europeia

Begoña Algur veio de Espanha até Aveiro e diz que a única coisa má do Erasmus é que “não se pode fazer duas vezes”. Melina Aguiar, vinda do Brasil para a Universidade do Porto, confirma: o Eramus mudou-lhe a vida “por completo”. Fala de uma experiência “única e inexplicável” que nem a ausência de apoio do Estado conseguiu derrotar. Ambas discordam completamente com o fim do programa e Begoña diz mesmo que “há muitos outros sítios onde não cortam e o deveriam fazer”. O problema, refere, é que “alguns dirigentes de alguns países europeus acham que o programa só serve para que os estudantes preguiçosos saiam para outros países para ir para a festa e se embebedarem”. “Tenho a certeza que nunca conheceram um grupo de alunos Erasmus”, remata.

Todas as estudantes, enquanto signatárias de petições de apoio ao programa, dizem não saber se “conseguirão resolver o problema”, mas acreditam que “é possível chamar a atenção da UE para o assunto”, se “todos os estudantes entrarem nesta luta”. Já Raquel Magalhães, que experienciou o Erasmus na Alemanha, não assinou a petição por sentir que pediam informações a mais. Para além disso, não está tão confiante: “Infelizmente duvido muito que resolva alguma coisa”, conclui.