“Era uma vez um rapaz que era constantemente vitimado e abusado, tanto nas ruas como na escola (…) simplesmente por ser diferente. Esse rapaz era eu”, começa Fábio Mesquita. Uma história que começa mal, mas que teve um final feliz. “Tive de acreditar em mim e tu tens de acreditar em ti, ser tu próprio”, diz o jovem. “Porque ser diferente é bom”.

Uma história feliz é também a de Jorge e João. Estão juntos há dois anos e dizem ser o exemplo “de que há luz ao fundo do túnel”. “Tentem mostrar à sociedade, através de atos de amor, que são felizes”, incentivam.

Os testemunhos de Fábio, Jorge e João querem servir de exemplo e apoio aos jovens portugueses homossexuais, bissexuais ou transgéneros vítimas de discriminação. O movimento “Tudo vai Melhorar” chegou a Portugal no passado mês de novembro, mas nasceu em 2010 nos Estados Unidos, quando Dan Savage – jornalista e ativista – e Terry Miller publicaram online um vídeo com o mesmo propósito. A frase “It gets better” [tudo vai melhorar], repetida pelo casal, deu origem ao movimento com o mesmo nome, que depressa alcançou um reconhecimento internacional.

“As pessoas precisam dizer o que são sem ter receio”

Estatísticas

Segundo dados do projeto, um em cada quatro jovens não heterossexual já tentou o suicídio, 42% dos jovens LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) afirmam terem sido vítimas de bullying homofóbico. 85% dos jovens afirmam já ter ouvido comentários homofóbicos, tais como “bicha”, “gay”, “fufa” ou “maricas”. Nos EUA, o movimento reuniu mais de 30 mil vídeos, de nomes como Barack Obama, Neil Patrick Harri, Ellen DeGeneres ou Adam Lambert e ainda das equipas de empresas como o Facebook, Google, Apple ou Pixar.

O mote chegou a países de todo o mundo, inclusive Portugal, através da associação CASA (Centro Avançado de Sexualidade e Afectos). “Tudo Vai Melhorar” foi lançado oficialmente no dia 10 e já conta com cerca de 30 testemunhos, entre eles o de José Castelo Branco. “Quem são os outros para julgar?”, pergunta.

Luís Cerqueira tem 18 anos e também quis deixar a sua palavra de apoio. Acredita que “a aceitação cresceu”, assim como o respeito pelas escolhas dos outros. “Não há tanto a temer”, diz, “as pessoas precisam dizer o que são” – “sem ter receio”. Já Maria da Luz e Jorge Gil são um casal de meia-idade, avós, que querem incentivar todos os jovens do país que já foram vítimas a pedirem ajuda. E deixam um alerta: desengane-se quem acha que é uma doença”.

Carina Fernandes é a psicóloga do projeto e quer mostrar aos jovens discriminados que “não estão sozinhos”. “O caminho é longo, mas tudo começa pelo primeiro passo”, sublinha. Para isso, todos podem ajudar: seja através da gravação de um vídeo de incentivo, do espalhar a mensagem ou até de donativos – que ajudam o movimento a ter recursos para campanhas de apoio e sensibilização.