Inaugurado há dez anos, o Metro foi o maior projecto urbanístico do século XX no norte de Portugal e veio mudar a paisagem da cidade invicta. Um processo longo, com avanços e recuos, mas que resultou no reconhecimento internacional.

A ideia de criar um metropolitano no Porto nasceu há mais de 20 anos. Em 1989, a Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP) desenvolve um estudo intitulado “Transporte Colectivo em Sitio Próprio” e fala pela primeira vez de uma “rede de carros electricos modernos”. A proposta seria a solução para o trânsito exagerado nas artérias da cidade.

O Metro como Utopia

Em 1990 a população do Porto não acreditava na construção do metropolitano. Segundo um estudo pedido pela Câmara Municipal, apenas 4% dos portuenses acreditava que o Metro do Porto chegasse a ser construído. 6 anos depois, uma sondagem da Euroteste mostrava-se que o número de pessoas a acreditar no metro tinha subido para 62,5%

Carlos Brito, presidente da transportadora portuense foi o primeiro a vir a público defender a construção de uma rede de metro ao publicar um documento intitulado “Salvar o Porto” onde dizia: “Perdem-se milhares de horas todos os dias nos engarrafamentos porque a cidade está engarrafada permanentemente. As avenidas são autódromos e a cidade, um gigantesco e desordenado parque de estacionamento”.

Na altura faltavam ainda algumas das infraestruturas rodoviárias actuais: a VCI não tinha ligação à Avenida da Boavista, os túneis de Faria Guimarães e Fernão Magalhães não estavam construídos, a ponte do Freixo não passava do papel… mesmo de comboio, a ligação a Gaia era feita pela Ponte D. Maria Pia, com uma só linha e já bastante degradada. O humorista Francisco Menezes era na altura jornalista de trânsito na Rádio Nova e lembra como a situação era complicada.

O metro como forma de resolver engarrafamentos na cidade

Em 1990, para responder ao problema do trânsito, Fernando Gomes, Presidente da Cãmara do Porto declara que o metro começaria a circular no espaço de 10 anos.

Ao longo da década de 90, o processo foi avançando e entraram novos “passageiros”. Se até então estava pensada uma ligação entre Gaia e Matosinhos ,através do Centro do Porto, a partir de 92 outros concelhos mostraram-se interessados no projeto. Assim, o metro viu-se alargado à Maia, Gondomar, Vila do Conde, Póvoa do Varzim e Trofa. Em 1993, a ideia materializa-se e é constituída a Metro do Porto S.A. com o objectivo de conceber, construir e pôr a funcionar o novo transporte.

Apesar da motivação regional, no governo central não existia o mesmo entusiasmo. Ferreira do Amaral, ministro das Obras Públicas na altura, acreditava que o Metro do Porto ia levar décadas a sair do papel. Só em 1995/96 o governo central garantiu ao poder local da área metropolitana do Porto que o metro do Porto ia realmente arrancar.

Ligação Porto-Gaia ainda gerou discórdia

Emprego na Metro do Porto

Segundos dados da Metro do Porto, devido ao novo transporte foram criados 13 692 novos postos de trabalho.

A travessia entre Porto e Gaia era um dos principais pontos de discórdia. Se uns defendiam a utilização de uma nova ponte, outros queriam utilizar a desativada ponte D.Maria (entretanto substituída pela ponte S.João). A escolha acabou por recair num dos ex-libris da cidade, a ponte D.Luís I. Segundo Baptista da Costa, um dos engenheiros que esteve na conceção da atual rede de metro, a utilização da ponte erigida por Eiffel foi um “arrojo”. Fernando Gomes, Ex-Presidente da Câmara do Porto defende que era “hipótese mais viável” e acrescenta: “não podíamos construir uma ponte ao lado da D. Luís, ia ser um atentado paisagístico.”

A escolha de um transporte à superfície ao contrário do que existe em muitas cidades europeias (Lisboa, Madrid, Paris) não foi ao acaso: “A decisão foi criar um metropolitano ligeiro à superfície, sempre que fosse possível, porque assim existe uma maior sensação de segurança por parte dos utilizadores. Para além disso a viagem torna-se muito mais atrativa”, conta Baptista da Costa.

A obra começaria no virar do milénio, 10 anos depois da proposta de Carlos Brito. Na primeira fase são concebidas 4 linhas com partida em Campanhã e destino no Aeroporto, na Póvoa de Varzim, no Senhor de Matosinhos e na Trofa, uma quinta linha, perpendicular, ligaria Santo Ovídio ao Hospital de S. João. Inicialmente foi pensada uma linha de metro que atravessasse a Avenida da Boavista, mas esta verificou-se economicamente pouco viável.

Construção do metro demorou mais de dez anos

Taxa de Satisfação

A taxa de satisfação ronda os 75%, sendo superior à da CP ou da STCP. Baptista da Costa não fica surpreendido com estes dados: “Sempre tivemos a preocupação que os cidadãos tivessem uma relação de afetuosa com o seu transporte. Escolhemos o veículo mais bonito e criámos uma rede à superfície para que as pessoas tivessem gosto em viajar no metro.”

Passados três anos de obras e alguns meses de experiências, a viagem inaugural ia unir a Casa da Música à Trindade. O metro tornava-se uma realidade para os portuenses depois de anos de escavações no centro do Porto. No dia oito de dezembro a população aderiu em massa, para experimentar o novo transporte.

No entanto as obras que estava previstas para durarem quatro anos acabaram por demorar o triplo e a linha amarela só chegou a Santo Ovídio em 2011. Baptista da Costa conta, no entanto, que “até à inauguração em 2002 não exisitiram atrasos nem derrapagens no Orçamento”. Fonte do Metro do Porto explica que os atrasos existentes foram causados por hesitações em relação ao sistema de linhas.

Depois de projeto inicial, a rede foi ainda alargada para o Estádio do Dragão (devido ao euro 2004) e para Fânzeres, em Gondomar. Para além do metropolitano, foi ainda requalificado o funicular dos Guindais.

Projeto premiado internacionalmente

Em 2008 o Metro do Porto recebeu na Turquia o Light Rail Award, um título atribuído pela International Association of Public Transport, que reúne mais de oito mil membros e cerca de 200 países. Este prémio distinguiu a criatividade e o design na concepção, a exploração e a comunicação da empresa de transportes do Porto.

Baptista da Costa não hesita quando diz que “o objectivo foi cumprido”. “Se antigamente apenas víamos carros a buzinar nos Aliados, hoje vemos turistas com mapas na mão. O trânsito saiu do centro da cidade”, remata. A afirmação é comprovada por um estudo da Qmetrics que afirma que até 2007, um quarto dos utilizadores da metro, trocaram totalmente o carro pelo novo transporte. Na área metropolitana deixaram de circular 11 mil carros diariamente devido á ação da Metro do Porto. Anualmente circulam no metro mais de 55 milhões de passageiros.

 

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